Cada época tem seus valores e suas práticas, portanto, não podem ser julgadas pelos conceitos atuais. Por isso, a história existe para registrar os fatos sob a ótica do tempo em que se passaram.
Nosso conhecido Rui Barbosa, por exemplo, tido como homem de rara inteligência e patriotismo, teve atitudes que hoje poderiam merecer duras críticas. Como ministro da Fazenda, provocou uma imensa crise, com grande quebradeira de empresas e até bancos, ao promover uma política de estímulo ao consumo e ao investimento pela via do crédito e da emissão de ações. Foi uma tragédia.
Depois, Rui comandou, no Senado, uma forte oposição a Oswaldo Cruz por causa da vacina obrigatória, para tirar o país de grave crise com a febre amarela e varíola. Acima da razão, o liberal defendia o livre arbítrio do cidadão.
Na oposição ao presidente Hermes da Fonseca, Rui Barbosa apelou para o exagero de condenar a inclusão de música popular brasileira nas recepções oficiais no Palácio do Catete. Certamente, sob inspiração da então primeira-dama Nair de Tefé.
O Marechal Dutra, presidente da República que cultuava o respeito à Constituição e à seriedade, mostrou fraqueza ao procurar de todas as maneiras promover o impeachment do governador Adhemar de Barros, de São Paulo. Este já tinha sido interventor e, eleito, completava admirável obra. A atitude de Dutra foi apenas para favorecer seu genro, Novelli Júnior, um bom homem, mas que, nem de longe, tinha o talento realizador do governador de quem era o vice.
Lidar com a família em termos de nomeações, aliás, exige mesmo muita disciplina. Sempre deu problemas e o ideal é não nomear mesmo – ainda que muitos parentes tenham qualidades para as funções.
Napoleão Bonaparte fez dos irmãos reis nos países ocupados e da importância da Espanha, da França, da Itália. JK deu de presente de casamento para uma sobrinha um cartório ao noivo dela, que não estava ainda formado em Direito. FHC nomeou filha e genro. Getúlio, em 1945, pode ter caído por nomear o irmão Benjamin Chefe de Polícia da capital, então cargo muito importante.
No entanto, há quem tenha defendido a prática abertamente, como o ministro do Supremo, José Linhares, que assumiu a Presidência da República na queda de Vargas, em 45, e nomeou muitos familiares. Indagado por um repórter sobre as críticas que vinha recebendo, respondeu na maior sinceridade: “Não são cargos de confiança? O senhor queria o quê? Que eu confiasse mais na sua família do que na minha?”