A leitura de biografia do senador Filinto Müller lançada recentemente chamou minha atenção para a presença de várias gerações de famílias ligadas à função pública ou à atividade cultural de relevo, em plena República. Normalmente, achamos que nobreza passava de pai para filho pelos títulos, quando estes o permitiam na monarquia.
Uma nota discreta no livro se refere a Manoel Corrêa do Lago, oficial do Exército, que interpretei como que sendo seu neto, do mesmo nome, empresário e economista, mas notável como pianista e músico de relevo no Brasil contemporâneo. A citação poderia ser fruto de um estudo acadêmico, por ser homem de cultura geral e ligado à história republicana pelo berço – é neto pelo lado materno de Oswaldo Aranha – e do Império pelo casamento com a tetraneta do Visconde de Ouro Preto. Mas fiquei sabendo que o consagrado músico carrega o nome do ilustre avô, que teve passagens com o grupo de tenentes ao qual o político cuiabano pertencia.
O General Corrêa do Lago foi casado com uma sobrinha do Barão de Icaraí, tendo tido entre os filhos o diplomata Antônio Corrêa do Lago, que foi embaixador do Brasil em Paris, Roma e Vaticano, entre outras funções de relevo, tendo exercido o cargo por um quarto de século. Deixou a marca da elegância, correção e dedicação à carreira.
No entanto, o legado não fica no filho que carrega o nome do avô – adido militar na Bélgica antes da II Guerra –, uma vez que outro filho, Pedro, é consagrado editor, com marca na arte e no recente sucesso da fotobiografia do avô Oswaldo Aranha. Na carreira diplomática, outro filho, André, é o atual embaixador do Brasil no Japão. Na vida acadêmica, destaca-se Luiz Corrêa do Lago, assim como o irmão Antônio, já falecido.
Na diplomacia, como na vida militar, ainda são comuns estes casos de gerações prestando serviços ao país. Nos quadros do Itamaraty, o percentual de filhos e netos de diplomatas chegou a 20% nos anos 1980. E mesmo hoje deve rondar os 10%. Foi o caso de famílias como Thompson Flores, Melo Franco, Andradas, Leite Ribeiro, Frazão e muitos outros. E os militares, da mesma maneira, sendo exemplo atual o General Sérgio Etchegoyen, que serve no Palácio do Planalto, filho e neto de generais. O presidente Costa e Silva era genro e pai de militares. Na Marinha, foram muitos os Noronha, Achê, Heck e Rademaker, entre outros.
Faltassem outros motivos, a importância da família na formação profissional, ética e moral do cidadão é fundamental, assim como o ensino a ser exercido com autoridade e austeridade. São os exemplos mais significativos na formação de uma sociedade. Por isso, talvez, sejam alvo de tantos ataques e contestações.
Sempre um prazer ler suas histórias !