Dois personagens fortes na história dos dois países acabaram com seus restos mortais divididos em circunstâncias diferentes: Pedro Álvares Cabral e D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal.
O primeiro, que descobriu o Brasil em 1500, natural de Belmonte, vivia em Sacavém, onde era casado com uma Gouvêa, família importante na cidade. Com o terremoto de 1757, o cemitério local foi atingido e o túmulo dos Gouvêa, onde Cabral estava enterrado, ruiu, misturando os restos ali existentes.
O esperto Marquês de Pombal, com bom sentido midiático, mandou ensacar o que ali estava e denominar como sendo “fragmentos dos restos mortais de Pedro Álvares Cabral”, que, mais tarde, foram distribuídos. Por isso, Cabral está em Sacavém, onde morreu, em Belmonte, local de seu nascimento, e no Rio de Janeiro, repousado na antiga Sé. Foi nesta igreja, aliás, que foram coroados D. João VI, Pedro I do Brasil – ali este também se casou duas vezes – e Pedro II, que governou o Brasil por 49 anos e ali casou os filhos.
Há semanas, o próprio embaixador de Portugal no Brasil, Jorge Cabral, esteve em visita ao local, levado pelo cônsul geral no Rio, embaixador Jaime Leitão. Aliás, Cabral ficou muito impressionado com a beleza e riqueza do Mosteiro de São Bento, uma joia da cidade e que foi a primeira residência no Brasil do primeiro-ministro Marcelo Caetano, acolhido pelos beneditinos.
Já D. Pedro I, em Portugal, doou seu coração ao Porto, a qual denominou de “mui heroica”. No entanto, nos 150 anos da Independência do Brasil, em 1972, – na verdade, apenas separação, pois já era Reino Unido desde 1815 –, o presidente de Portugal, Almirante Américo Tomás, doou ao Brasil os restos mortais do imperador sem o coração, que está no Porto, levando-os pessoalmente, em barco da Marinha de Portugal, até o Rio de Janeiro. Um grande acontecimento, que mereceu a gratidão dos brasileiros e, em especial, do presidente Emilio Médici, que, inclusive, visitou Portugal posteriormente.
Hoje, os restos de D. Pedro I estão no Museu do Ipiranga, em São Paulo, local em que o então Príncipe Regente anunciou a rejeição das instruções de Lisboa, que, aliás, já tinham sido respondidas por sua mulher, a Imperatriz Leopoldina, assistida por José Bonifácio de Andrada, com o chamado “brado do Ipiranga”. Mas convém lembrar que a separação só se deu de fato com o reconhecimento de Portugal, em 1825, depois de mais de dois anos de resistência das tropas portuguesas sediadas na Bahia, comandadas pelo bravo General Madeira.
Por fim, vale destacar também que a troca de urnas funerárias e o repatriamento dos restos mortais dos inconfidentes mineiros mortos no degredo, em Portugal continental e estados ultramarinos, tiveram a iniciativa do presidente Getúlio Vargas e o apoio do primeiro-ministro Oliveira Salazar. A missão foi confiada ao historiador mineiro Augusto de Lima Junior, autor da ideia, que, em Lisboa, se tornou interlocutor frequente de Salazar e do Cardeal Cerejeira.
No ano seguinte, em 1939, Augusto de Lima Junior regressava a Lisboa como Delegado Especial do Presidente do Brasil para a Exposição do Duplo Centenário. Detalhe: o Brasil foi o único país estrangeiro presente com um pavilhão.