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Na política, como na vida, se deve separar o “joio do trigo” para ficarmos no conhecido dito popular. Assim é que o depoimento do general Augusto Heleno no Supremo Tribunal Federal deve ser lido.
O general é um oficial altamente preparado, conceituado no Exército e em muitos setores da sociedade civil. Teve, inclusive, seu nome cogitado para uma candidatura a presidente na eleição de 2022. Ele é, pode-se dizer, um remanescente do pensamento dos homens que fizeram a Revolução de 64 e governaram o país nos quatro governos ligados ao movimento – Castelo, Costa e Silva, Médici e Figueiredo –, e de conduta correta ao logo da carreira militar.
A nítida identidade do militar com um pensamento que prioriza a ordem, a disciplina e o mérito naturalmente desperta restrições entre os que defendem uma linha mais à esquerda ou de um liberalismo exacerbado. Mas sua conduta, de ponderação, bom senso e honestidade intelectual, o coloca na lista dos auxiliares de alto nível do governo Bolsonaro. Assim como os ministros Paulo Guedes, Tereza Cristina, Marcos Pontes, Tarcísio de Freitas e Ricardo Salles, Heleno não participou de nenhuma das reuniões referidas no julgamento, que o indiciou pelo cargo no Palácio do Planalto e referências de terceiros. Ficou claro na terça-feira que sua participação neste episódio fantasioso foi zero, o que ficou patente na referência feita em depoimento do Brigadeiro Baptista Junior.
Homem educado, o general ouviu o brigadeiro e nada respondeu por ignorar as intenções do então presidente. Ficou fácil aos que assistiram ao depoimento que o General Augusto Heleno deve ser excluído do processo. A dignidade, o caráter e a lealdade o fizeram não se comprometer sem ferir suas relações com o ex-presidente. A postura correta do ilustre militar foi reconhecida elo então presidente, que, respeitando-o, não abordou com ele a ridícula aventura que sonhou.
Falta na abordagem do papel de alguns dos militares nesta inusitada tentativa de impedir a posse do eleito lembrar que o presidente da República é, pela Constituição, o Comandante em Chefe das Forças Armadas e muitos podem ter agido em nome da disciplina e subordinação, sem a visão maior dos comandantes do Exército e da Aeronáutica.
Pena que essa polarização que vivemos impeça muitos de separar o joio do trigo.
Publicado em: jornal Correio da Manhã 13 06 25