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A queda do regime salazarista, após sua morte, representou uma farsa perante à história que vem sendo cansativamente repetida ao longo deste meio século que nos separa do 25 de Abril.
A fraude é flagrante, quando não resta a menor dúvida de que a conspiração foi toda urdida entre o Partido Comunista Português e os capitães infiltrados no Exército de formação marxista. Os demais membros da oposição foram surpreendidos naquela manhã, tanto quanto o presidente Almirante Américo Tomás e o primeiro-ministro Marcello Caetano. Álvaro Cunhal estava tão ciente que regressou ao país poucos dias depois de longo exílio em Moscou.
A verdadeiramente democrática oposição ao regime, e que estava participando da política como uma dissidência reformadora, teve a ingenuidade de acreditar que estavam diante do nascer de uma democracia nos moldes da Europa central. Homens sem nenhuma conotação socialista sequer, como Galvão de Melo, Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Mota Amaral e Homem de Melo, da ala liberal dos políticos surgidos na chamada Primavera Marcelista, que começa a abrir o regime. No mais, o grande nome era o do General Antônio Spínola, que chegou a presidente de Portugal. Dono de grande prestígio, tendo lançado um livro de grande repercussão defendendo uma política para os estados ultramarinos, era homem de direita e foi usado na primeira etapa do movimento. Incompatibilizado, renunciou e acabou exilado no Brasil, voltando mais tarde afinado com a reação dos socialistas chefiados por Mário Soares, que abortou a implantação final do comunismo soviético em Portugal.
Curioso é que os que acusam exaustivamente Salazar de barbaridades na repressão a oposicionistas relacionam algumas centenas de mortes e poucos milhares de prisões ao longo de quase meio século nunca se manifestaram contra o regime soviético e dos países de sua esfera de influência.
Mesmo os não comunistas, como Soares e tantos outros intelectuais, jamais se referiram às perseguições e execuções aos milhões naqueles anos em Moscou, como em Pequim. O paredón de Fidel Casto é cercado de silêncio e até exaltação. Mais curioso ainda é a quantidade de escritores, jornalistas, cúmplices de regime totalitário e violento, sem liberdade, negado o direito do ir e vir, da opinião. A censura de Salazar é que merecia condenação veemente.
Os democratas portugueses realmente silenciaram diante da incoerência dos que se apresentaram como libertadores quando, na verdade, estavam a serviço do comunismo internacional. E não lembram de que o país foi salvo no último minuto da trama.
Não há como negar que o período autoritário de Salazar deu ao país anos de desenvolvimento, ordem, segurança e baixíssima corrupção. E como regime, com restrições à plena democracia, não comportava comparação com os horrores que se estima tenha custado cem milhões de vidas entre 1917 e 1980 no mundo comunista, incluindo os países asiáticos, como Camboja, Vietnam e outros.
A comunidade portuguesa no Brasil sempre foi muito reconhecida ao regime que resgatou o país da desordem e de miséria, como atestam os diplomatas que serviram após o 25 de Abril.
Publicado em: Jornal Diabo.pt 05/02/25