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As grandes empresas até os anos 1980, portanto a menos de meio século, eram, na sua maioria, controladas por famílias ou grupos associados, com seus acionistas na gestão e participando ativamente de seus destinos. Por tal, estes homens eram ouvidos e respeitados por governantes e políticos. Tinham relevância na sociedade pela obra empresarial e muitas vezes social. Não se pode negar que no Brasil dos anos 1930 e 1940, o Grupo Crespi, de um italiano que chegou a São Paulo aos 20 anos e se tornou o maior industrial têxtil do país, foi pioneiro nas casas para trabalhadores, na alimentação nas fábricas e até na saúde, com hospital hoje doado ao Estado. Em Portugal, Alfredo Silva, fundador da CUF e homem carismático, deu proteção a seus colaboradores maior do que qualquer legislação laboral de inspiração de políticos. E geraram empresas e empregos, fazendo a riqueza circular. Em Portugal, muita gente não sabe quem foi Eugénio de Almeida, que dá nome à fundação que produz o excelente Cartuxa. Mas, mais do que o vinho, doou à cidade de Lisboa o terreno onde está o Parque Eduardo VII.
Com o tempo, e a troca de gerações, as empresas ao redor do mundo passaram a gestores de rica vida acadêmica, mas sem compromissos com os próprios negócios e seus colaboradores, com os consumidores a que servem e a própria sociedade. O descompromisso com o capitalismo, que permitiu este progresso de todos, aliado a busca de lucros no curto prazo e a qualquer custo, além da ambição do bônus, vem permitindo malfeitos em todos os lugares. As empresas estão mais preocupadas em plantar árvores e patrocinar artistas do que produzir com qualidade e produtividade e remunerar melhor seus funcionários. Ganha-se muito na cúpula e pouco nas bases. A miopia não permite ver que a empresa precisa de mercado próspero para progredir. Maior a renda média dos trabalhadores, maior o progresso. E mais: não se preocupam em preservar a democracia, e o capitalismo regime que vige onde tem desenvolvimento e se respeita o empreendedorismo e a propriedade.
A indisciplina não tem limites. Há clubes de tradição centenária que não conseguem ser atendidos pelos sócios ao pedir uso do paletó e gravata. E, pior, não conseguem barrar os que ignoram e afrontam, evidenciando uma decadência refletida na falta do exercício da autoridade.
Esses espertos gestores ignoram o mérito na seleção de seus quadros. Agora, a seleção é por “cotas”, sejam raciais, religiosas ou de gênero, para agradar uma minoria que não estuda, não trabalha. A apresentação dos funcionários também deixou de ser referência do respeito ao consumidor-cliente. Poucas organizações ainda mantêm o uniforme, que impede uma postura de pouco caso com a sociedade. Nega-se, muitas vezes, ao empresário o direito de exigir uma apresentação pessoal asseada, dentro de padrões de respeito ao próximo. Um mundo que vive um irresponsável dia a dia, sem pensar no futuro incerto com uma geração com maioria sem capacidade de trabalhar dentro dos padrões modernos da eficiência e produtividade. Dinheiro não dá em árvores e os estados ficarão sem poder atender as demandas, cada vez mais ousadas.
Receita para o caos!!
Publicado em: Jornal Diabo.pt 06/07/2023