O sistema de representação adotado em muitos países da Europa, como Portugal e Espanha, precisa ser revisto em nome de um saudável aprimoramento democrático, eliminando distorções que poderiam caber no século XIX e não no XXI.
É que no Brasil, por exemplo, os partidos abrigam candidatos e os eleitos serão os mais votados. Não existe a “lista partidária”, que protege os apadrinhados pelas direções dos partidos. O voto direto no candidato permite a avaliação pelo eleitor do desempenho do parlamentar e o encontro de afinidades. Num mesmo partido, por exemplo, pode ter um deputado a favor da pena de morte e outro contra. E, quando não for questão fechada, cada um vota conforme sua posição.
Na Espanha, ocorre um fenômeno que compromete hoje a estabilidade econômica e social do país, muito por culpa da composição das listas do Partido Socialista. Até a atual direção, o partido poderia ser considerado de centro-esquerda, do chamado socialismo-democrático, o que deu anos de estabilidade aos governos no consenso com os conservadores do Partido Popular em questões importantes para a economia e o emprego. Nas duas últimas eleições legislativas, entretanto, o PS, sem consultar suas bases, privilegiou nomes mais à esquerda, com consequências trágicas para o país e a própria democracia.
Hoje, o governo forma uma coligação com radicais de esquerda e separatistas, quando até então não precisava ceder para atender a propostas radicais. Deu espaço assim para a presença do Podemos, que é um agrupamento revolucionário e contra o capitalismo. A fuga de capitais está explicada.
Essa aliança, com o PS afastado do centro, isolou os conservadores, dando margem a formação e crescimento do Vox, que tem a coragem de assumir a defesa da Espanha católica e conservadora. Vamos ter problemas sérios na economia espanhola nos próximos dois anos.
Em Portugal, a geringonça é justamente fruto do mesmo tipo de composição. Os socialistas moderados praticamente desapareceram e as leis ligadas à economia aprovadas nos ótimos quatro anos assustam investidores, dos quais o país, em tese, dependeria para aumentar a oferta de empregos, de arrecadação e de qualidade na produção industrial e agrícola.
A América Latina está sendo varrida por uma onda vermelha, com temperos demagógicos e odores de corrupção. Após a falência argentina, que acontecerá em breve, será a vez do México. Nicarágua e Chile também estão indo na mesma direção. Todos, inacreditavelmente, seguindo o modelo fracassado da Venezuela, de inspiração cubana.
Por isso, Brasil, Colômbia e Peru, apesar de problemas políticos, estão enfrentando a crise com mais conforto e pouco sofrimento para os menos favorecidos, significativos nos três países. Mas as reformas para modernizar a economia enfrentam resistências nos grupos de esquerda, alimentados por um equivocado sentimento denominado “nacionalismo”, que é responsável pelo isolamento do continente.