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O Brasil foi surpreendido com a morte do ex-ministro e ex-deputado Alysson Paolinelli, o arquiteto da moderna agricultura brasileira que criou as bases do extraordinário avanço nos últimos 50 anos.
Aos 86 anos, estava ativo, presidindo a associação dos produtores de milho e responsável pelo grande salto nos últimos três anos, colocando o Brasil na corrida para passar de terceiro para segundo maior produtor mundial do produto com multiusos na agricultura e na energia renovável.
Apesar de conservador – foi ministro do governo do General Geisel, no período militar, e deputado constituinte pelo Partido da Frente Liberal –, sua morte provocou manifestações de toda a sociedade. Desde o presidente Lula da Silva ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi a seu sepultamento. O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, decretou luto oficial por três dias. Os ministros Carlos Fávoro, de Lula, e Roberto Rodrigues, nos governos anteriores, também se manifestaram.
Ao promover a chegada da ciência e da tecnologia de ponta ao setor agrícola, Paolinelli incorporou mais de dois milhões de quilômetros quadrados à área produtiva, justamente onde hoje está a maior parte da produção de soja, açúcar e da pecuária. A Embrapa, empresa de tecnologia que ele impulsionou, é considerada mundialmente como excelência nas pesquisas de incorporar produtividade e qualidade à produção agrícola. Assim, Paolinelli foi indicado duas vezes para o Prêmio Nobel pela sua contribuição no crescimento da produção de alimentos no mundo.
A arrancada que fez o Brasil ser o quarto maior produtor e maior exportador de produtos agrícolas do mundo teve início ali em seus cinco anos de ministro e nos últimos 15 anos do regime militar. Entre os maiores produtores de café, soja, milho, algodão, laranja, açúcar, fruticultura diversificada, celulose, produção bovina, suína e avícola, o Brasil como potência agrícola nasceu neste meio século. E Paolinelli recebeu o Nobel da alimentação em 2006, o World Food Prize.
O chamado agronegócio representa hoje quase a metade do PIB brasileiro e 40% das exportações. A maior empresa voltada para a produção rural, em diversas propriedades, vem de ser avaliada em mais de dois mil milhões de euros.
O setor é bem-organizado politicamente e tem presença no Parlamento com a bancada ruralista, que vem enfrentando as tentativas socialistas na direção de inibir a área. Esta representação política tem freado as investidas intervencionistas do governo Lula, que tem má vontade com o setor que deu, em suas regiões, grande votação a Bolsonaro. Este teve em seu governo no comando da área outra figura de muito prestígio, que é a senadora Tereza Cristina, de uma família tradicional na pecuária do centro-oeste do país.
Num Brasil radicalizado, a morte do agrônomo e político foi uma pausa que uniu a todos nas justas homenagens a um grande homem público com serviços concretos prestados ao país e à humanidade.
Publicado em: Jornal O Diabo.pt 13/07/23