O que faz algumas cidades figurarem entre as maiores rendas per capita do mundo não é o tamanho do PIB, e sim dos salários. Muitas não possuem nem espaço para a indústria. São centros de serviços, como tecnologia de ponta, mercado financeiro, indústrias sofisticadas. Algumas têm no turismo presença relevante.
Existem exemplos da dimensão criminosa de equívocos por inspiração ideológica ou falta de coragem dos políticos. É o caso de Portugal, reconhecido como o melhor lugar para se morar e trabalhar, mas que não consegue atrair grandes empresas para terem a sede europeia no país.
Portugal tem bons preços, qualidade vida, segurança; é um país praticamente bilíngue, com conexões aéreas para todo mundo, em especial, para o restante da Europa, a poucas horas de voo. Mas carece de ambiente amigável para negócios, com impostos altos, burocracia de enlouquecer, leis trabalhistas de assustar e sindicalismo selvagem. Com a saída da Inglaterra da União Europeia, Portugal poderia ter recebido estimados dez mil empregos de mais de dez mil euros por mês, sendo mais de mil de mais de 30 mil, além de benefícios de casa, automóvel e colégio de filhos.
Portugal é atrativo para aposentados e portugueses aposentados em outros países. Calcula-se em cem mil estes residentes não habituais, quando a Espanha tem quase dois milhões. Até o investimento no imobiliário para obtenção do visto de residente não habitual sofreu esvaziamento e caiu muito. Logo, os empregos são poucos e mal remunerados. Os filhos das classes médias com boa formação acadêmica migram geralmente. Tudo pela falta de coragem dos governantes. A indústria que exporta não cresce pelos frequentes embates sindicais. Nos últimos anos, até o Marrocos se beneficiou do clima sindical português.
O Uruguai tem se beneficiado das loucuras do governo bolivariano argentino e recebeu, neste ano, mais de dez mil novos residentes fiscais, que precisam ter um imóvel, contribuir para a Previdência e passar 90 dias por ano no país.
O Brasil, em especial o Rio, poderia sediar os escritórios latino-americanos das grandes multinacionais, como acaba de receber recentemente a Coca-Cola. Para tal, precisava de mais segurança, mercado financeiro mais aberto, imunidade trabalhista para empregados estrangeiros, tarifas diferenciadas para veículos e tributação sobre salários pagos em outros países.
Todo mundo quer morar no Rio. Temos tudo a oferecer, colégios internacionais, boas universidades, hospitais, lazer e cultura. Falta um projeto com coragem para enfrentar a reação de gente menor, preconceituosa. As isenções fiscais, em todos os níveis seriam sobre recursos que nunca viram e a injeção de dinheiro e a geração de empregos compensariam facilmente. E simplificação na movimentação de contas em outras moedas e outras burocracias
Ainda temos estoque de bons e jovens profissionais, quase todos falando mais de um idioma.
Publicado em: Jornal Correio da manhã 17-09-21