Curioso como segmentos políticos e empresariais ainda não perceberam as mudanças do mundo no que toca a formação de conceitos pela população mais informada via as redes sociais. Inclusive, há perplexidade pela penetração dos conservadores – ou direitistas, como queiram –, entre os mais jovens.
Tudo mudou na última década. Mais do que sonhos revolucionários, em que Che Guevara era o herói – apesar de um histórico de execuções no “paredon” cubano –, a mocidade hoje quer emprego, qualidade de vida, segurança. Não querem viver em sociedades divididas, violentas, insensíveis ao custo para os desafortunados das bravatas elitistas dos “revolucionários” que formam uma casta de reais privilegiados. Em Cuba, onde o povo vive na miséria, sem pão e sem liberdade, os donos do poder têm tudo que a população não possui. Agora mesmo, sem energia elétrica parte do dia em todo o país, não falta luz nos bairros reservados às autoridades, corpo diplomático e militares.
Na área econômica, os jovens já perceberam que empresas estatais formam privilegiados que ganham mais e trabalham menos do que os demais. Que os serviços públicos são deficientes e custam mais caros do que os oferecidos pela livre iniciativa. São elites trabalhadoras que usam e abusam de greves, – e da fraqueza dos governos-pois não estão sujeitos à disciplina e à responsabilidade pelos seus atos.
Quanto a princípios éticos e morais, não ficou difícil a percepção de que no estado inchado, deficitário, com inflação e impostos exorbitantes, os donos do poder frequentemente têm uma ala que vive de criar dificuldades para vender facilidades. É a corrupção dos privilégios.
A questão da segurança pública mudou da defesa dos “direitos humanos’ a infratores para a defesa dos direitos humanos para seres humanos corretos e trabalhadores. Os que sofrem mais são os que não podem viver em condomínios, ter carros blindados, morar em bairros bem atendidos pelo poder público. Mesmo os esquerdistas que sustentam esta situação já não têm vergonha da incoerência por viverem tão bem ou melhor do que os “privilegiados”. Uma empresa estatal tem prejuízos que são compartilhados com a sociedade; já uma empresa privada tem prejuízos cobertos por seus acionistas. Por isso, os empresários que compraram a TAP são gratos ao governo socialista que devolveu o dinheiro pago, e o povo português arcou com os prejuízos dos anos de pandemia e pelos custos das altas remunerações dos gestores indicados pelo governo.
O que emperra o mundo ocidental hoje, que é motivo de preocupação, não é o crescimento “das direitas”, como proclamam as esquerdas, mas sim a passividade, covardia, do centro-esquerda, que prefere conciliar com a falta de ordem a atender aos reclamos populares e formar aliança com as novas forças. Casos de França e Portugal, cujos dirigentes ignoraram o recado das urnas, com medo das patrulhas ideológicas que influenciam parte do mundo midiático, artístico e cultural em geral. E bem instalados, vão adiando as reformas que ambos os países pedem para sanear finanças, serviços públicos e ordem interna. Não pode haver paz, progresso, justiça social em países que vivem em greves em serviços essenciais para a população, em que os empreendedores são alvo de extorsão tributária, que leva ao atraso e à pobreza.
Anda faltando lideranças de bom senso e equilíbrio. Com credibilidade – o que carece aos novos grupamentos ditos de direita, que interpretam a vontade popular sem a sabedoria dos políticos experientes –, moderados no discurso e firmes na defesa de uma nova ordem. Muito adjetivo e pouco substantivo neste debate.
Queiram ou não, a crise, agravando a vida da população, pode desembocar nos quartéis. Como foi no passado, desde De Gaulle. E isso na melhor das hipóteses.
Publicado em: Jornal Diabo.pt 28/12/24