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O nível e a importância das relações entre Brasil e Portugal vêm sofrendo, pelo lado oficial, perda de qualidade desde os anos de Itamar Franco e Mário Soares, em que a CPLP foi o último evento relevante, impulsionado pela presença em Lisboa do embaixador José Aparecido de Oliveira, entusiasta da causa. FHC nos dois mandatos, os anos PT, Temer e agora Bolsonaro ignoraram as relações entre os dois países, estreitas através da ligação forte entre os dois povos. Hoje, vivem em Portugal cerca de 200 mil brasileiros, que eram seis mil em 1960, e a TAP é, de fato, a empresa brasileira de bandeira, responsável maior pelas ligações do Brasil com a Europa.
Para ficarmos no século passado, vivemos o regime do Estado Novo nos dois países, com Vargas e Salazar, que tinham grandes afinidades, mas não houve nenhuma visita oficial. O Brasil marcou presença, em 1940, na exposição do mundo português, como único país estrangeiro com pavilhão e delegação oficial, a nivel de embaixador.
Até hoje, a mais aplaudida pelo povo visita de chefe de Estado estrangeiro ao Brasil foi a do presidente Craveiro Lopes, nos anos JK. Este esteve em Portugal quando eleito, como presidente, sendo aqueles anos considerados os mais próximos entre os dois países. Naquele período, o governador de São Paulo, por três vezes, Adhemar de Barros, importante líder político, visitava Portugal, era recebido por Salazar e, nas suas campanhas presidenciais, dizia que, se eleito, iria propor lei que daria cidadania brasileira aos portugueses que o quisessem na primeira semana em solo brasileiro. JK voltou a Portugal no exílio, onde morou e casou sua filha.
No período militar, o Brasil recebeu Marcello Caetano, em 69 e em 72, e o presidente Américo Thomaz em histórica visita, levando no Funchal, barco da Armada , os restos mortais de D. Pedro I do Brasil e Pedro IV em Portugal. A visita do Médici, em maio de 73, foi significativa e foi este presidente quem conferiu o direito de voto aos portugueses residentes no Brasil. Américo Thomaz recebeu o título de presidente de honra do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, que data do Império e é a mais prestigiada instituição cultural do Brasil, onde se faz cultura e não política, nem compadrio. O presidente João Figueiredo também visitou Portugal e Mário Soares, que foi presidente, ministro, primeiro-ministro e grande amigo do Brasil muitas viagens oficias e privadas.A.
Essas ligações fraternais fizeram com que Lisboa e Rio de Janeiro fossem destinos habituais a políticos que precisaram recorrer ao exílio. Assim foi por seis anos 39-45 com Plínio Salgado, político e intelectual brasileiro de relevo em sua época, tendo voltado em 1962 como deputado federal. Plínio e Salazar tinham grandes afinidades ideologicas e religiosas, mas Plinio só foi por ele recebido na última viagem, pois o primeiro-ministro português não queria suscetibilizar Getúlio Vargas. O pai do presidente Figueiredo, General Euclides, também viveu em Portugal no exílio, assim como JK. O Brasil foi o destino do presidente Thomaz e do primeiro-ministro Marcello Caetano e de ilustres portugueses perseguidos pelo regime dos cravos vermelhos, como os ministros Baltazar Rebelo de Sousa, Adriano Moreira, Rui Patrício, os advogados de grande saber Inocêncio Galvão Teles, Alberto Xavier, Assis de Almeida, entre outros. E empresários de relevo como Alfredo Alves, Manuel e Mário Vinhas, Antonio Espirito Santo e Silva, Afonso Pinto de Magalhães, António Champalimaud, Lúcio Tomé Feteira e muitos outros.
Portugal é presença na obra de grandes intelectuais brasileiros, que dedicaram imensa amor à ligação luso-brasileira, como Gilberto Freyre, o jornalista escritor e compositor David Nasser, Alberto Costa e Silva, Heitor Lira. E a diplomacia sempre foi, até recentemente, postos de prestígio com Antônio de Faria, José Manuel Fragoso, Manuel Rocheta, Daniel de Carvalho, Francisco Seixas da Costa, João Salgueiro, Felipe Castro Mendes, Almeida Lima, Jaime Leitão, António Tânger. E o Brasil com Negrão de Lima, Castro Alves, José Aparecido de Oliveira, Itamar Franco e Felipe Lampreia, cujo avô foi embaixador de Portugal no Brasil.
Estamos no ano do bicentenário da Independência, que, nas palavras do diplomata brasileiro Gibson Barbosa, foi prova do gênio português, pois foi feita pelo herdeiro do trono português. Os dois governos não deram importância ao fato. Muito diferente dos 150 anos, com cinco meses de eventos em todo o Brasil e a forte presença portuguesa pelas suas representações e o presidente da República e o primeiro-ministro preentes.
Uma pena!!!
Publicado em : jornal O Diabo – Portugal