O Rio tinha uma bonita tradição na solidariedade social de forte cunho católico, ao longo do século passado. Foram grandes senhoras da melhor sociedade a dedicar parte de seu tempo a obras de grande mérito, desinteressadamente. Nada de ONGs, pagando salários, gerando “projetos” custosos e, apesar de “não governamentais”, quase sempre com dinheiro público e com objetivos ideológicos. E estas ONGs, na sua maioria, nunca passaram de instrumentos de pregação política e ideológica, indiferente aos interesses dos menos favorecidos. São raros os que realmente ajudam sem este viés.
Mas até recentemente, um grande número de senhoras, donas de casa, mulheres de empresários ou profissionais liberais, trabalhava nas entidades, que legaram exemplo para as novas gerações, e algumas resistem. No entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas, por exemplo, muitas instituições ainda estão presentes, mas com grandes dificuldades, pois dependem de mecenato e as famílias mais antigas nem sempre, hoje, são as que mais têm condições de arcar com os custos. O Patronato da Gávea, cuja alma era a Sra. Léa Affonseca Duvivier, a Pequena Cruzada, a Obra do Berço, tudo nesta linha de servir com amor e espírito cristão. Infelizmente, o Ambulatório da Praia do Pinto, na rua Jardim Botânico, encerrou as atividades, depois de anos de exemplar dedicação da Sra. Sarita Galliez Pinto, entre outras. Muitos dos melhores médicos do Rio atendem gratuitamente uma vez por semana nestas entidades.
O que se poderia chamar de joia da coroa, em termos de serviços prestados, é a ABBR, dirigida pelo abnegado Dr. Deusdeth do Nascimento, auxiliado por voluntários e um funcionalismo preparado e dedicado. A ABBR deve muito a um grupo de grandes damas da sociedade da segunda metade do século passado, como Malu Rocha Miranda, Ligia Lowndes, Gisella Amaral. Foi criada pela generosidade do empresário Percy Murray e inaugurada pelo então presidente JK e sua mulher, D. Sarah.
Estes exemplos é que deveriam merecer espaço nas mídias, todas elas, pois são eles que podem estimular a sociedade a ser mais solidária, generosa e não achar que tudo tem de ser obra do Estado. Admirável é o recente Projeto Uerê, da Sra. Yvonne Bezerra de Mello.
Ainda temos a presença estatal. O Rio de Janeiro, por exemplo, conta com o Rio Solidário, presidido pela primeira-dama do Estado, Analine Castro, e a da República, D. Michelle, tem um bonito trabalho também. Mas o importante é que a sociedade seja solidária efetivamente.
Publicado em : Jornal Correio da Manhã 25/03/22