Os 130 anos da morte, em Paris, de D. Pedro II, o último Imperador do Brasil, foram lembrados com frequência e destaque inéditos. Talvez as decepções com os governos republicanos e a diferença de postura entre os altos mandatários dos dois regimes levem a certo sentimento saudosista, uma vez que os meios modernos de comunicação fazem com que a história chegue a um número maior de pessoas e de todas as classes sociais.
A popularidade da Casa de Bragança no Brasil, até aqui, tem sido sustentada nas camadas mais humildes da população, onde a presença do sangue africano é mais acentuada, em função do reconhecimento à Princesa Isabel pela Abolição da Escravatura, cuja importância passou a ser inquestionável. A negação de seu papel no processo gradual e seguro se limita hoje a movimentos de influência esquerdista.
O papel lamentável do governo republicano, quando da morte do antigo soberano, foi lembrado. Não só a Embaixada do Brasil na França tentou diminuir as homenagens ao ilustre morto, grande amigo e de grande prestígio naquele país, onde foi viver seus últimos anos, como no Rio de Janeiro houve cenas vergonhosas, como a Polícia tentando impedir que a bandeira do Brasil ficasse a meio pau, em sinal de luto, em muitas casas, estabelecimentos comerciais e entidades. Os mais ilustres brasileiros da época prestaram homenagens públicas, como Joaquim Nabuco, Marquês de Tamandaré, Visconde de Ouro Preto e os intelectuais Carlos Laet e Alfredo Taunay.
O impacto da morte foi realmente muito forte na França. O Imperador gozava de grande prestígio não apenas nas instituições culturais e científicas que frequentava, como o Instituto Pasteur onde esteve na véspera de morrer, como no próprio governo republicado. Os franceses não esqueceram que D. Pedro foi o primeiro governante estrangeiro a visitar Paris depois da derrota de 1870.
O presidente Sadi Carnot enfrentou as resistências republicanas, as insinuações do governo brasileiro, e concedeu honras de Chefe de Estado aos funerais, que ocorreram na Madeleine, onde mais de cinco mil pessoas passaram até o cortejo se dirigir à estação ferroviária que o levaria a Lisboa, para São Vicente de Fora, onde ficou entre a madrasta, Rainha Amélia, e a mulher, Imperatriz Teresa Cristina. No velório, compareceram inúmeros intelectuais, como Eça de Queirós e Alexandre Dumas Filho. O impacto chegou a ser comparado ao da morte de Victor Hugo.
D. Pedro morreu no Hotel Bedford, onde depois veio a morar o compositor Villa-Lobos. Restaurado, o estabelecimento mantém as placas alusivas à morte do Imperador e da presença do compositor. Nas primeiras 48 horas de seu falecimento, chegaram ao hotel mais de dois mil telegramas. Isso em 1891.
O Brasil, que anda muito criticado, com forte inspiração ideológica, mereceu na ocasião elogios como o do New York Times, que se referiu a D. Pedro como “o mais ilustre monarca do século”. O The Times, de Londres, foi outro a tecer elogios ao governante de meio século de mando no Brasil, considerado “sábio, benevolente, austero e honesto”.
Algo parece precisar ser meditado para se garantir um mínimo de respeitabilidade às Repúblicas e mesmo aos regimes democráticos no ocidente. Entramos neste século XXI muito pobres de líderes, de ordem, de bom senso, em que nem uma pandemia, como a que se vive, serviu para frear a baixa qualidade
no exercício da vida pública. As sociedades nos setores não vinculadas ao setor público não parecem satisfeitas com a democracia como está sendo conduzida, e estão decepcionadas com o baixo nível das chamadas instituições republicanas.
Publicado em: Jornal Diabo.pt 22-12-21