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Percebe-se nos países de língua portuguesa uma sofisticada manobra para retirar a importância de Luís de Camões na unidade da raça, do idioma e das afinidades, que garantem certo prestígio e respeito a nossos países nos fóruns internacionais. Prestigio conquistado ao longo dos séculos pelas suas elites mais cultas.
Vindo de completar 440 anos de sua morte, o grande poeta épico da língua, modelo de dezenas de grandes nomes nos países lusófonos até nossos dias, tem um papel muito maior do que o meramente literário, pelo que induz e representa na história de uma raça que se fez presente com sua mensagem nos quatro cantos do mundo.
Deve-se ao mundo intelectual português e brasileiro, em especial, a permanência através dos séculos do conhecimento de sua obra e a interpretação correta de seus valores na formação de uma cultura especial no mundo. Para ficarmos no quanto é atual, em Os Lusíadas está a alusão à postura antirracista, multirracial do português, na missão de evangelizar e civilizar regiões remotas daqueles tempos. Exaltada quase 400 anos depois por Gilberto Freyre ao se referir ao luso-tropicalismo. E as interpretações dos historiadores de que as “entradas e bandeiras” no Brasil, que foi o avanço dos bandeirantes na direção do interior do Brasil, Minas e Goiás inicialmente, em comparação à epopeia de Vasco da Gama em “mares nunca navegados”. Nestes quatro séculos, Camões foi lembrado e exaltado pelos maiores nomes das letras de língua portuguesa. E do mundo.
No século passado, não se pode ignorar a importância dada pelo Estado Novo e por Salazar a Camões, ao promover, inclusive, uma versão para estudantes de Os Lusíadas e as comemorações de seu dia. E mais: a mensagem patriótica de Camões se enquadrava no ideário salazarista de alimentar autoestima portuguesa enfraquecida pelos anos confusos da República, renovados nas loucuras pós-25 de abril.
Quando da Exposição do Mundo Português, a escolha do local, em Belém, poderia estar também associada ao desejo de dar visibilidade internacional aos “Jerônimos” e à presença ali dos túmulos de Vasco da Gama e Luís de Camões, o que faz todo o sentido, conhecendo-se a sutileza da cabeça do primeiro-ministro. Curioso é que não se fala que a Exposição do Duplo Centenário, em 1940, teve, de certa maneira, repercussão relativamente maior do que a Expo 94.
Mesmo assim, a esquerda, que não perde tempo em pegar boleia em tudo que é midiático, dominou de certa maneira o Prêmio Camões, instituído à luz da criação da CPLP, em 1988. Este, ao premiar intelectuais comunistas, independentemente de seu valor, afronta o governo brasileiro, como este ano, quando deu o prêmio ao compositor e escritor Francisco Buarque de Hollanda, que aproveitou o ensejo para atacar duramente o governo e o presidente do Brasil.
Camões, que esteve em Moçambique e na Índia portuguesa, lutou no Marrocos, é, efetivamente, a referência de que sobrevive, à sombra de sua obra e memória, uma raça, que os que se dedicam ao negativismo da importância da mensagem camoniana nos novos territórios conquistados não conseguem vingar. A obra nos conduz a perceber a facilidade do português em se adaptar e integrar, sem perder a identidade nacional da língua, da religião e dos valores éticos.
O intelectual brasileiro Joaquim Nabuco, em palestra sobre Camões, em 1880, no Rio, disse uma frase forte, mas verdadeira: “O teu túmulo será, como o de Maomé, o ímã de uma raça”.
Camões é dos povos de língua portuguesa!