A confusão causada por uma exposição em Porto Alegre, encerrada pelo patrocinador antes do previsto, não é nenhuma novidade na vida brasileira. Nos anos 1920, o escritor, jornalista e ensaísta Humberto de Campos, o que mais vendia livros, criou uma revista voltada para temas de sexo com o nome de A Maçã, em que aparecia com o pseudônimo de Conselheiro XX. Jackson de Figueiredo, intelectual e muito católico, ficou chocado com a publicação e, sem saber quem era o verdadeiro editor, considerou-a atentatória aos bons costumes e defendeu sua apreensão pela polícia. Detalhe: Humberto já vinha assinando colaboração para os jornais com este nome, sempre tendo o sexo como tema.
Humberto foi um maranhense que veio cedo para o Rio e logo se firmou no meio intelectual, tendo, inclusive, sido eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde chegou com um discurso polêmico sobre o ocupante anterior da cadeira, Emílio de Meneses, muito estimado na Casa de Machado de Assis. Vendia tão bem que, quando morreu, seu editor resolveu publicar contos que seriam transmitidos por um médium, de sua autoria. Isso veio a provocar um rumoroso caso na Justiça, pois a família dizia que era roubo de direitos autorais e o julgamento se deu sobre a discussão se a obra criada depois do autor morto tinha ou não direitos autorais.
Humberto chegou a exercer um mandato de deputado federal e fazia parte da turma que se reunia na Confeitaria Colombo, que funciona até hoje, em prédio histórico, na rua do Ouvidor, no Centro do Rio. O grupo primava pela crítica, o que hoje se denomina de “fofoca”.
O livreiro João Martins Ribeiro, por exemplo, dizia que o hábito da leitura havia desaparecido no Rio depois que foi fundado o Jockey Clube, pois as pessoas preferiam jogar e ver cavalos correr do que ler. Na Colombo, a mesa dos intelectuais era só de homens, as mulheres, muitas com filhos, ficavam separadas e mesmo assim até as cinco da tarde, pois das seis as oito é que as mulheres interagiam mais , eram “as francesas” que lá passavam para um pré-cabaret. Mistura de sexos tinha suas leis e os intelectuais mantinham um trato discreto com estas senhoras das seis horas.
As primeiras décadas do século XX foi movimentada na cultura brasileira. A sra. Laurinda Lobo, que tinha uma bela casa em Santa Teresa, hoje anexa à Fundação Castro Maia, chegou a receber em seus salões personalidades internacionais como Anatole France e Paul Adam . Era uma rara mulher de presença na vida intectual e social da cidade.
Portanto, o sexo desde sempre serviu a controvérsias. Inclusive, nos meios culturais.