O lamentável caso policial envolvendo a filha de um importante galerista do Rio já falecido e sua mãe, herdeiras de uma das mais significativas coleções de arte brasileira, chama a atenção para o fato de que o Rio ainda tem relevância na presença da cultura em todos os segmentos, inclusive privados, assim dos centros de pesquisa científica e tecnológica.
Parte desta importância vem de suas famílias antigas, detentoras de patrimônio de grande valor, nas artes, como nas instituições recreativas significativas. O Grupo Cesgranrio, do professor Carlos Alberto Serpa, é o mais eficiente e tradicional parceiro do Ministério da Educação no Enem e em outras iniciativas para a qualidade do ensino. Os institutos culturais Casa Roberto Marinho e Moreira Salles agregam movimento à agenda cultural, assim como a Academia Brasileira, o Instituto Histórico e Geográfico, o PEN Club, a Academia Brasileira da Defesa, Instituto dos Advogados e a Academia Nacional de Medicina, entre outras.
Na iniciativa privada, duas das cinco maiores galerias de arte do Brasil são cariocas, a Ipanema e a Bolsa de Arte. Assim como os museus Belas Artes, Imperial, Nacional, do Mar, do Amanhã, de Arte Moderna, República e Casa de Rui Barbosa, Real Gabinete Português de Leitura. O Rio possui ainda o maior e mais importante acervo de igrejas, em um tipo de turismo ainda não explorado devidamente. Os centros de pesquisas de empresas e universidades também são significativos.
Por isso, o governo deveria ter um Conselho de Cultura de alto nível, com alguma estrutura para defender o que existe e lutar pelos meios de consolidar o Rio como um centro de estudos, de patrimônio artístico e histórico. Cabe ao Estado garantir condições para a atividade cultural, sem intervenção direta que não a de preservar o patrimônio e preservação das edificações que marcam época. A gestão direta nunca deu resultados, quando não apenas paternalismo e aparelhamento.
Recentemente, focos de pensamento retrógrado impediu o governo federal de vender o emblemático Palácio Gustavo Capanema, sede do antigo Ministério da Educação, que vem passando há anos por obras intermináveis, que se deteriorariam em pouco tempo se em mãos do poder público, com os riscos inerentes, quando poderia estar com o setor privado que o valorizaria e preservaria com responsabilidade e com compromissos a serem respeitados. É preciso desaparelhar o setor !
Publicado em: Jornal Correio da Manhã 24/08/22