As universidades públicas brasileiras, especialmente as do governo central, são frequentes em greves, algumas de dois e três meses. Curiosamente, nos quatro anos de governo Bolsonaro, não houve nem uma greve. Nem de professores nem de alunos. Agora, neste segundo ano de governo de esquerda, os estudantes ficaram sem aulas em março, abril e maio. E com problemas de alimentação, uma vez que o restaurante universitário, que cobra pelo almoço menos de meio dólar, também estava incluído na greve. Além dos prejuízos no conteúdo pedagógico, há o adiamento das formaturas e a evasão daqueles que deixam de estudar e não voltam.
O custo médio do estudante da universidade pública brasileira está na média mundial de 14 mil dólares por ano. E os salários dos professores, que dão aulas, entre dois mil e quinhentos e quatro mil dólares por mês. Mas na USP e algumas do Nordeste os vencimentos dos professores mais antigos, com várias incorporações, chegam a dez mil dólares.
O ensino é gratuito, não se permite a cobrança dos alunos mais abonados, com uma gestão compartilhada com o setor privado por imposição sindical. E o ingresso garante a metade das vagas para alunos provenientes de escolas públicas, cota de negros, pardos, índios e portadores de alguma deficiência. A outra metade fica em geral para a classe média, que tem formação mais apurada.
Ocorre que 80% das ofertas de vagas nas faculdades são do setor privado, sendo o Brasil o país com maior número de estudantes pagos do mundo.
O governo do PT, na presidência de Dilma Roussef, criou um programa de financiamento aos estudantes para fornecer bolsa que seria paga depois de formado, quando estivesse trabalhando. Este programa repassou para as escolas privadas cerca de dez bilhões de dólares de 600 mil alunos inadimplentes. O governo, diante do endividamento dos jovens, refinanciou abrindo prazos longos para o pagamento. Mas as entidades privadas já receberam sua parte. E a doutrinação de esquerda prevalece.
O setor universitário público no Brasil emprega quase 300 mil pessoas e custa cerca de 12 bilhões de dólares por ano. A proteção sindical impede avaliação por desempenho de professores e não admite tocar na estabilidade no emprego. O absenteísmo é grande, ficando as aulas, na maioria dos casos, entregues a assistentes de professores.
Apesar dessa militância ideológica, algumas faculdades públicas, especialmente em São Paulo, têm qualidade e excelência. As greves, os gastos com pessoal, impedem investimentos na qualidade do ensino e das próprias instalações, inclusive dos hospitais universitários. Os quatro anos sem greves confirmam a influência da postura do governo no comportamento dos professores.
No mundo ocidental, este tem sido a diferença entre governos que usam a autoridade legítima e os que cedem diante de um sindicalismo irresponsável e que agride o interesse público. Hospitais universitários públicos, que atendem os mais carentes, fazem greves. A rede privada não.
Mais dia menos dia, os governos socialistas ou não das democracias terão de enfrentar este grupo organizado, caro, ineficiente, que procura formar jovens revolucionários na burguesia para abater a democracia e o capitalismo dominando o ensino superior público.
Publicado em: jornal Diabo.pt 27/07/24