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A falta de tempo e gosto pela leitura e conhecimento da história nas novas gerações de empresários, investidores, homens que fazem o dinheiro circular os está levando ao cadafalso. E eles não percebem. Esta alienação se assemelha ao diabetes, que age em silêncio e, quando surge, por vezes, é tarde demais.
Antonio Gramsci é o mais importante pensador marxista. Tem a sensibilidade dos latinos, com a flexibilidade dos bons estrategistas. Ficou mais de dez anos na prisão pensando e escrevendo e deixou um receituário da revolução comunista consagrado na fase pós-Estaline e aplicada com sofisticação na Europa Ocidental e nas Américas.
É dele a percepção de que a tomada do poder não depende da luta armada e sim do enfrentamento direto com o capitalismo, que em sua época evidenciava ser o caminho da liberdade com justiça social e não a simples agitação sindical. Morreu no auge dos anos do Duce em que a Itália vivia um período de prosperidade, felicidade e paz, motivo pelo qual sua obra só ganhou impulso no pós-guerra. Realmente o tempo mostrou que a via insurrecional se ateve a Cuba, por ser uma ilha e ter sido sustentada a peso de ouro pela URSS.
Triunfou ao apontar o domínio dos meios de comunicação e cultura como instrumento eficiente de ir anestesiando as sociedades livres para a tomada do poder pela via eleitoral, em aliança com os “Kerensky” modernos. São linhas auxiliares da esquerda os “social-democratas” que preferem aliança com a esquerda do que com o centro democrático, por medo das mídias. O capitalismo não é ameaçado pela ” extrema direita”, mas solapado pela ” esquerda democrática” nem sempre democrática.
Gramsci pregou também a destruição dos impedimentos para a implantação de um regime ateu em que o Estado forma o cidadão e não as famílias. E começou a infiltração de militantes no clero, a narrativa da “dívida social”, a aprovação do divórcio, que em quase todos os países era limitado a uma vez, depois a duas e três, até liberar geral como hoje. A seguir, e veio a pauta de gênero, de uma hipocrisia total, pois nos regimes comunistas – e continua na Rússia – as restrições aos homossexuais foram constantes, inclusive na Cuba de Fidel Castro, enquanto nos países capitalistas nunca houve preconceito que não por individualidades e, mesmo assim, malvistos. Com a história sendo apagada, nada pode lembrar estadistas que salvaram seus países do comunismo como Franco e Salazar e os militares do cone sul. Pior do que a ação do ódio, é a omissão dos bons. Até quando?
A dar cobertura a esta batalha silenciosa, planejada, formou-se um exército de jornalistas, escritores, artistas de toda natureza. Já estamos há décadas na fase de se anular textos e obras que não sejam de esquerda. A grande mídia mundial, nas mãos de capitalistas, abre espaços maiores para a esquerda, em troca de elogios ao “espírito democrático”. As editoras, algumas empresas prósperas, também privilegiam as obras de esquerda que merecem a crítica dos jornais. Cantores e artistas plásticos que não sejam militantes de esquerda sofrem para não ficarem no anonimato. Abertos em 1990, os arquivos da URSS revelaram o grau de envolvimento de Hollywood com o comunismo nos anos estalinistas.
A fortalecer a prioridade de formar as mentes dos jovens, o ensino é alvo de atenções especiais. Em todos os países democráticos, os sindicatos de professores são dominados pelos partidos comunistas e, nas universidades, varridos os livros sem conteúdo ideológico.
O direito de propriedade já não é uma bandeira, mas sim o confisco via impostos e tributação pesada nas heranças como acaba de ocorrer no Brasil. O último reduto conservador no mundo ocidental é o meio rural.
Tradicionalmente, grandes empresários participavam da política, exercendo mandatos parlamentares, disputando ou exercendo cargos executivos. Nas últimas décadas, a presença é mínima nas principais economias. Os ricos entravam na política e hoje os políticos saem ricos da política.
Os capitalistas estão alegres, o consumo de luxo aumenta, uma festa à vida de quem tem, enquanto tem. O dinheiro já não pertence ao cidadão que precisa explicar o saque de cinco mil euros, como se fosse traficante. Mesmo assim, os capitalistas financiam as esquerdas, trocando a paz de hoje pelo amanhã incerto.
Publicado em: Jornal Diabo 20/04/24