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A reunião do G20, no Rio de Janeiro, foi um sucesso no que toca a presença dos mais importantes governantes do mundo, incluindo presidentes dos EUA e China, em ambiente de congraçamento e o prazer da acolhida da cidade, com clima ameno e organização impecável.
O presidente Lula da Silva e o prefeito Eduardo Paes foram anfitriões perfeitos e deram assistência aos ilustres convidados para a reunião, que foi na magnífica sede do Museu de Arte Moderna, local privilegiado na cidade. Até o tempo ajudou, com dias lindos.
Foi amplamente noticiado a subscrição de todos de um documento sobre temas da atualidade. Poucos, entretanto, leram o texto de 86 páginas, que um comentarista da televisão declarou ter levado uma hora e dez minutos para fazê-lo. Um monumento à hipocrisia colocar como grande feito a união de todos na luta contra a fome no mundo, como se alguém pudesse ser contra. Outra “conquista” foi condenar a desigualdade nos países em desenvolvimento, como se algum governo fosse a favor.
Lula da Silva lavrou um tento, apesar do acidente lamentável na véspera do evento, quando sua mulher, Janja, insultou com palavras de mais baixo calão Elon Musk, empresário e futuro ministro de Trump. Foi anfitrião cordial e presente. Mostrou todo seu carisma, pois discursou até contra a corrupção, quando todos sabem que seus companheiros de vida pública estiveram envolvidos em grandes casos de corrupção, e ele mesmo foi condenado em três instâncias e com mais de 500 dias de prisão por desvios de dinheiro público. Também prova de seu talento para a política é que evidenciou seu alinhamento com o eixo Pequim-Moscou e nem por isso foi questionado por Biden e os líderes da União Europeia, todos presentes no Rio. Política é para profissionais.
O encontro mostrou ainda que o presidente da Argentina, Milei, é o grande nome do liberalismo mundial, com coragem e nitidez; sucessor de Margaret Thatcher e de Ronald Reagan. Seus pronunciamentos foram claros na defesa da livre empresa, da propriedade, do estado eficiente e, portanto, menor. A Argentina, a duras penas, vem conseguindo melhorar sua economia graças a determinação de seu presidente.
Para observadores atentos ao encontro foi também uma manifestação dos valores da política tradicional, da busca do consenso, da tolerância, do diálogo civilizado. Afinal, nem manifestações de rua perturbaram o clima de congraçamento. Na verdade, de prático mesmo, nada, pois os projetos tipo financiamento da questão climática, super-ricos pagarem mais impostos e perdão da dívida dos países mais pobres ficaram nas palavras e boas intenções. O perdão das dívidas beira o absurdo, na medida em que o dinheiro está em parte nas contas dos governantes destes países pobres. Além disso, a questão climática via recursos em dinheiro é muito arriscada na América Latina e na África. Uma das delegações teria chegado a sugerir nas reuniões prévias que se relacionasse bens para o combate a incêndios, desmatamento e outros, para serem adquiridos pelos países ricos e doados aos pobres, não em dinheiro.
Além do Rio de Janeiro, que obteve divulgação mundial, a vitória da reunião do G20 foi da hipocrisia de muitos e da impunidade de outros tantos. A nota divulgada no dia seguinte, em Brasília, para onde se deslocou Xi Jinping, falou em defesa da democracia ser um compromisso do Brasil e da China. Pode?
Publicado em: jornal Diabo.pt 30/11/24