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O excelente programa de ocupação do centro do Rio de Janeiro, para passar a ter também moradores, precisa ser acompanhado com cuidado, sob risco de se tornar um grande problema, e não um avanço no contexto de reerguimento da querida cidade.
Os sucessivos lançamentos de edifícios com unidades em torno de 40 metros quadrados excluem casais com filhos ou filhos por vir, e não parece ter oferta de dois ou três quartos. O mais importante, porém, é que prevaleça os cuidados para que não tenham problemas como os vividos por muitos anos no pioneiro prédio da Rua de Santana, esquina da Av. Presidente Vargas, mais conhecido como “balança, mas não cai” – problemas financeiros do condomínio deixou o imóvel sem elevadores.
O anunciado lançamento no terreno conhecido como Buraco do Lume não pode ser aprovado. Fica no coração do centro, em frente à Assembleia Legislativa, a poucos metros da Av. Rio Branco e do Largo da Carioca e já está incorporado à paisagem da área. Deve é sofrer intervenção paisagística de qualidade. Abrigar moradores é um avanço, favelizar e denegrir o centro histórico, uma barbaridade. E ali estão patrimônios como Theatro Municipal, Biblioteca Nacional, Justiça Federal, Clube Militar e Clube Naval. Tudo a ser preservado e mais bem aproveitado. Afinal, abundam outras opções de reformas em imóveis existentes.
Medida cautelar seria obrigar um elevador a cada oito andares, meio de diminuir o risco de colapso no serviço essencial.
O governo municipal poderia montar, com a Arquidiocese do Rio, um projeto a ser bancado por suas poderosas instituições federal na região – BNDES e Petrobras – para restauração das igrejas do centro. Algumas, como a N. S. do Carmo, estão sob risco iminente de uma tragédia. O turismo histórico e religioso seria importante para a área.
Há grande preocupação da prefeitura em restaurar o centro, mas é preciso atenção para detalhes e características da população pouco habituada à importância de preservar o patrimônio histórico e artístico.
O centro precisa de moradores que saibam usufruir da infraestrutura de qualidade. Mas não pode nem deve correr o risco de se tornar um favelão de concreto, com suas marcas habituais.
Também seria oportuno um convênio da prefeitura com os incorporadores no sentido de aumentar a oferta de imóveis para uso familiar e, sempre que possível, reservar espaço para a infância usufruir da qualidade no morar.
A hora de pensar no conjunto do projeto, e seus riscos, é essa. Com o passar do tempo, o sonho pode se tornar um pesadelo.
Publicado em: Correio da Manhã 30/04/25