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A imensa capacidade criativa das esquerdas não tem limites. Ao criar 14 ministérios, Lula da Silva incluiu o de “Direitos Humanos” e o da “Igualdade Racial”. O PT e seus aliados à esquerda não se conformam com a fragilidade das denúncias sobre direitos humanos, que foram desrespeitados no Pará e em São Paulo por governos locais de oposição aos militares. No regime militar, podem ter ocorridos excessos, mas envolvendo os integrantes da “luta armada” que, como o próprio nome diz, provocou uma guerra e suas lamentáveis consequências, de lado a lado.
Igualdade racial é brigar com o mundo que reconhece o Brasil e a colonização portuguesa como exemplares na miscigenação racial. Nunca houve racismo, segregação, que não a social e econômica, atingindo a brancos e amarelos, como em quase todo mundo. E, mesmo assim, de forma insignificante.
A ignorância ou má-fé vai a ponto de certamente ignorarem a presença relevante do Brasil na Declaração Universal dos Direitos Humanos, carta da ONU, aprovada em sua terceira reunião, em 1948, em Paris. A declaração, deliberada pelos 58 países fundadores da ONU, teve forte influência da missão brasileira comandada pelo jornalista, escritor e presidente maior da Academia Brasileira de Letras (ABL), Austregésilo de Athayde. Aliás, o grupo de brasileiros foi constituído por jovens diplomatas que, nas décadas seguintes, vieram a se tornar personalidades marcantes na vida diplomática, cultural e política do Brasil, como Roberto Campos, Guimarães Rosa, Antônio Corrêa do Lago e Saraiva Guerreiro, entre outros.
Austregésilo foi reconhecido por todos como dos principais redatores do documento e, inclusive, participou de episódio marcante, com o apoio de todos, a começar pela representante dos EUA, Eleanor Roosevelt. É que o primeiro parágrafo dizia logo que “todos os seres humanos eram iguais e criados pela natureza”. Athayde, que foi seminarista, mas se tornou agnóstico, apresentou emenda incluindo “criado a imagem e semelhança de Deus”.
A Rússia e países que já eram seus satélites se insurgiram, com a concordância – claro – de Eleonor Roosevelt, em nome de sua negação das religiões e da existência de um ser superior aceito pela demais religiões. No debate que se seguiu, o Brasil apresentou a solução que era suprimir a “natureza” e ponto final, aceita por todos.
Mas outros artigos tiveram sua decisiva participação, como o que garante o direito de asilo e respeito à opinião e à liberdade religiosa.
Austregésilo de Athayde dedicou mais de meio século à militância na ABL, sendo ele o responsável pela independência financeira da entidade, que possui um imóvel ao lado de sua sede que garante uma renda significativa, fruto de seu empenho pessoal junto aos presidentes JK, que doou o terreno, e Castelo Branco, que autorizou o financiamento da obra. Athayde foi companheiro por mais de seis décadas de Assis Chateaubriand e até dias antes de morrer assinava artigo publicado em toda a cadeia “associada”. Era orador excepcional.
A presença do Brasil na criação da ONU foi importante a ponto que o primeiro discurso na abertura do ano, em setembro, ter sido do Brasil, seguido dos EUA. Os
demais são rotativos. E mais: a presidência na fundação coube ao brasileiro Oswaldo Aranha, a quem se deve a criação do Estado de Israel, ao fazer aprovar a resolução, com muita habilidade dada a oposição de muitos países.
Publicado em: Jornal Diabo.pt 11/03/23