O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é homem de alto nível intelectual, elegante no escrever e no falar, que deixou a militância esquerdista para chegar à Presidência da República. Faz-se de socialdemocrata, mas está muito mais para socialista do que para o centro-esquerda democrático. E sempre foi assim.
Mesmo no governo, teve ministros de antiga militância radical, envolvidos em atentados violentos e fez uma privatização “para inglês ver”, pois, em empresas como a VALE, os fundos de pensão das estatais entraram no controle. O que é a negação do capitalismo, pois fundo é para aplicar e não para administrar investimentos, indicando dirigentes e promovendo a tradicional política de empregar. A distorção foi corrigida agora.
Chegando aos 90 anos, muito lúcido, andou dando entrevistas a propósito de um novo livro que está lançando. E aproveita para reafirmar seu esquerdismo incorrigível ao declarar que, entre Lula e Bolsonaro, votaria em Lula.
Ora, o presidente Bolsonaro tem falado besteira, tem um comportamento questionável em relação à pandemia e age infantilmente na postura informal, abusando de palavreado inapropriado ao cargo que exerce. Mas ele acha que o povo gosta disso – o que não é verdade. Os filhos também influem demais nas decisões palacianas. Mas a corrupção sem as dimensões do passado recente é evidente. E acabou com a influencia da esquerda no Brasil.
Quanto a Lula e aos anos PT, hoje é sabido e comprovado que o dinheiro público serviu, em quantidades incomensuráveis, aos biliões de dólares, para a compra de maioria parlamentar e no financiamento de países sem tradição de pagadores, por motivos meramente ideológicos. Os recursos empregados em obras em Angola, Venezuela, Cuba e Nicarágua não encontram justificativa alguma. E até em Portugal, na operação da Oi e Portugal Telecom, em que os prejuízos foram apurados, assim como o desvio de dinheiro para empresas de um dos seus filhos e, em Portugal, em honorários pagos ao orientador-mor do petismo, José Dirceu.
Seria mais natural que FHC respondesse que não existe essa hipótese, uma vez que ambos são políticos desgastados e as pesquisas, com esta antecedência, beneficiam sempre, e em todo mundo, os nomes mais conhecidos. A da Datafolha, inclusive, aponta que a metade dos consultados declarou não ter opção ainda.
Entre as pérolas do livro, que ainda não chegou às livrarias, sabe-se que ele conta da eleição do pai para deputado, nos anos 1950, dizendo que, apesar de eleito com os votos dos comunistas, era um conservador. Chega a ser engraçado! Deve ter receio de seu esquerdismo ser considerado hereditário.
A terceira via não será com esses nomes e muito menos com a quarta candidatura de Ciro Gomes, que aparece nas pesquisas longe dos dois mais citados. Ela ainda vai surgir, como aconteceu em 1989, com Fernando Collor, e em 2018, com Jair
Bolsonaro. O povo quer apostar num novo nome, na esperança de que nada lembre os antigos.
Publicado em : Jornal O Diabo – Portugal/Lisboa