Conexões na vida pública são importantes e, por vezes, pouco conhecidas. E alguns personagens ricos destas ligações são acima de partidos e de disputas. Em 1985, por exemplo, o Colégio Eleitoral para a eleição indireta do sucessor do presidente João Figueiredo decidiu entre Tancredo Neves, eleito, e Paulo Maluf, derrotado. Como o político mineiro estava eleito por antecipação, lideranças contrárias a ele articularam a renúncia de Maluf para tumultuar o processo, pois só haveria um candidato. Não sabiam que os dois eram amigos de longa data, de relação nascida por meio do cunhado de Maluf, Ricardo Jafet, íntimo amigo do político mineiro. Maluf não embarcou na operação, contou a Tancredo, em encontro secreto, no Rio, articulado por Francisco Dornelles e legitimou a vitória do mineiro, a quem, aliás, anos antes sua empresa Eucatex, havia feito doação legal para a campanha em Minas.
Tancredo não ficou aí. Seu sobrinho Francisco Dornelles, que, aos 20 anos, foi seu secretário particular quando primeiro-ministro, na época da eclosão do da Revolução de 64, foi preterido numa viagem de estudos para a qual já estava escolhido. Embora não tenha sido explicitado, o cancelamento da viagem se dava justamente por ser sobrinho de quem era. O jovem Dornelles, ao saber que não mais iria fazer o curso na Bélgica, foi ao Palácio Laranjeiras e, recebido de imediato pelo presidente Castelo Branco, contou o fato. O presidente, na mesma hora, pelo telefone reservado que o ligava aos ministros, mandou que fosse liberada a viagem. O que o boboca do chefete do Ministério da Fazenda não sabia é que Dornelles, além de sobrinho de Tancredo, era filho do General Mozart, colega e amigo de Castelo.
O destino fez com que Tancredo, em momento delicado na vida nacional, com o recesso do Congresso pelo AI-5, viesse a encontrar aquele que veio a ser fundamental em sua eleição em Minas, no governo, na montagem da campanha presidencial e do primeiro ministério. É que, vindo para o Rio pelo recesso, foi acolhido por seu amigo Severino Pereira da Silva, o então “rei do cimento”, com quem trabalhava o ex-deputado estadual em Minas, companheiro de Santhiago Dantas, José Hugo Castelo Branco. Daquele convívio surgiu a ligação entre os dois e José Hugo foi nomeado Chefe da Casa Civil e depois ministro da Indústria e Comércio de José Sarney, que se encantou com o cativante José Hugo.
A política tem seus caminhos que, por vezes, o público desconhece.