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A posse de Trump marca uma nova fase na conjuntura econômica e política do mundo, independentemente da personalidade e das ideias do novo líder dos EUA. O mundo atual está mais voltado para o pragmatismo que a globalização impôs do que a narrativas ideológicas e o projeto deste ou daquele país.
A primeira constatação é a de que todos os países têm de observar o que se passa no mundo, pois a interdependência é flagrante. Quem não acompanhar a evolução na economia, na tecnologia, na demografia e nas opções dos mais relevantes corre o risco de sofrer consequências pela imprevidência. Um olhar realista e nada emocional é recomendado.
No Brasil, por exemplo, um pequeno grupo de estudiosos, entre economistas e diplomatas, avalia que a vantagem nas próximas décadas do país reside justamente no agronegócio, que tem sido criticado pela esquerda no poder. O mundo consome mais à medida que economias com grande população, como China, Índia, Paquistão e Indonésia, proporcionam aumento de renda a centenas de milhões de pessoas que comiam pouco. A China é a maior produtora de alimentos do mundo, mas também é a maior importadora, pois os chineses estão comendo mais e têm muitos milhões para ter acesso a um patamar superior de consumo. A Índia, outro grande produtor de alimentos, não tem sobra para exportar pelo tamanho de sua população e o modelo econômico da atividade agrícola. Restam, nos quatro grandes produtores e exportadores, os EUA e o Brasil. A China compra um terço do que o Brasil exporta, mas se abastece em igual proporção com produtos norte-americanos, o que cria uma certa dependência nas relações comerciais com estes dois países. Mas, entre os asiáticos, alguns países vêm crescendo na produção, como o Vietnam, hoje o segundo maior produtor de café, por exemplo, e relevante na venda de arroz. A Indonésia, apesar da agricultura forte, é importadora líquida de alimentos e deve permanecer considerado o crescimento econômico, que vai promover o aumento do consumo. O petróleo e a borracha são seus produtos de exportação. Nesta área, o Brasil tem posição privilegiada, pois tem espaço para crescer sua produção com sustentabilidade e alcançar menor custo na logística. A soja brasileira tem lucratividade bem inferior à americana e à argentina pelo alto custo de a produção chegar aos portos. E a dependência dos fertilizantes importados não tem sido atacada pelo atual governo.
Logo, conclui-se que realmente a questão alimentar é fator relevante nas relações econômicas e políticas entre os países. A questão dos Brics, que reúne países relevantes como China, Índia, Brasil e Rússia, tem conflitos de interesses internos. China e Índia têm relações difíceis e competem em muitas áreas. Rússia e Ucrania, de porte médio no setor, estão envolvidos no conflito e sofrem as consequências naturais.
Segundo especialistas, Trump não fará uma política com base em ideologia ou política. Vai ser mais um empresário no comando da maior economia do mundo do que um político ideológico. Vai dar maior ênfase às relações binacionais do que a acordos gerais. Esta mudança vai beneficiar alguns, mas certamente prejudicará outros tantos.
A situação do Brasil vai depender do comportamento de Lula da Silva. Terá de engolir a ligação de Trump com Bolsonaro, conter o antiamericanismo de seu assessor diplomático, Celso Amorim, e adotar a justificativa de Deng Xiaoping, quando abriu para o capitalismo de “não importa a cor dos gatos, desde que matem os ratos”. O socialismo, como se sabe, não é o caminho da prosperidade.
Publicado em: Jornal Diabo.pt 08/03 /25