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Uma olhada nos temas que eram debatidos no Brasil nas décadas de dez e vinte do século passado mostra que essa história de o país se ocupar de temas distantes das necessidades prementes da população vem de longe.
Nem o político e jurista Rui Barbosa, como parlamentar, se ocupava de temas caros ao chamado povão. Os debates nos jornais e no Parlamento eram a infalibilidade papal, a regulamentação do instituto do habeas corpus, a igualdade jurídica entre as nações, o serviço militar obrigatório. Rui Barbosa, com todo seu talento, foi o maior desastre no comando da economia, como ministro que promoveu um grande escândalo no mercado de capitais, conhecido como encilhamento.
Curioso é que em pleno processo de industrialização que a Europa vivia, no Brasil o assunto nem era considerado. Vivíamos do café e ponto final. São Paulo crescia em função da presença de colonos europeus e do financiamento de bancos ingleses a projetos ferroviários. A liberdade econômica, que já fazia os EUA ultrapassarem a economia da Inglaterra, era, no mínimo, ignorada entre nós.
São Paulo crescia pela qualidade da mão de obra europeia, que vinha desde o final do século XIX, enquanto a República não teve o cuidado de preparar a mão de obra escrava para ter maior qualificação, ganhar mais e participar do crescimento do país. Impressiona a alienação de nossas elites, ricas na identidade com o mundo cultural francês, com intensa atividade intelectual no jornalismo e na diplomacia. O país ignorava mais de 90% da população.
Agora vivemos a mesma indiferença. Mão de obra qualificada depende até hoje do Sistema S criado por Getúlio Vargas. Nossa produtividade é baixa, a qualidade sofrível e a lucratividade inferior à dos países desenvolvidos, o que retira competitividade de nossa indústria. O agronegócio, que é relevante, também sofre com custos na logística. Nossa soja tem lucratividade para o produtor inferior à dos americanos e argentinos. Já tivemos anos em que a soja de Mato Grosso não tinha preço para chegar aos portos.
A pauta nacional é a “defesa do estado de direito”, cuja insegurança é fruto de avanços do Judiciário na vida do país, delírios ambientais para deter exploração de petróleo, troca de comunicação para atender ao desejo de reeleição do presidente e por termos quase 40 ministérios. Ao invés de melhorar a comunicação era melhor melhorar o governo;
Fica difícil melhorar a vida do povo!
Pubblicado em: jornal Correio da Manhã 27/03/25