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Há quase 70 anos o Brasil vivia momentos de muita apreensão. Uma legislação eleitoral equivocada permitia o voto do presidente – e governadores e prefeitos – diferente de seus vices. Assim, Jânio Quadros foi eleito pela direita e teve um vice de esquerda em Jango Goulart. O resultado foi a crise de 61 e, mais adiante, o advento da Revolução em 64.
Na crise da renúncia, três ilustres brasileiros pressentiram a inconveniência da posse do vice eleito sob outras ideias. Mas efetivamente a Constituição era clara em garantir a posse do vice e acabou tudo num acordo do regime parlamentarista, que foi derrubado menos de dois anos depois e abriu caminho para a crise na economia e no processo político que se encaminhava para um desfecho bem à esquerda, provocando caos social, policio e institucional.
Os chefes militares que tentaram uma solução extraconstitucional acabaram chamados de três patetas. O tempo veio, entretanto, a demonstrar que se tratava na realidade de três profetas. Almirante Sylvio Heck, Marechal Odílio Denis e Brigadeiro Grun Moss foram estes grandes brasileiros, que desde o dia seguinte começaram a preparar a reação para a eventualidade da escalada vermelha que veio a se confirmar. O Brasil tem uma dívida com estes homens. Não conseguiram o intento inicial, por pré-julgamento, mas não abandonaram a causa pela democracia, a ordem e o progresso.
É preciso um olhar isento, realista, para entender os dois momentos, o de 61 e o de 64. Mas hoje vivemos essa fraude em relação aos acontecimentos. Chamam a revolução de “golpe”, quando o movimento recuperou e modernizou o Brasil, conteve o caos econômico, social e político. E ainda reformou o Estado, criando o FGTS, o BNH, o Banco Central, pelo talento de Roberto Campos e Octavio Gouvêa de Bulhões.
Pioneiros dos ideais de 64, só viram a situação mudar diante dos atos de subversão da ordem, da agitação sindical, da inflação levar o país à beira do abismo. Mas a reação foi articulada por esses três homens, que acabaram por receber para a causa a adesão da alta cúpula das Forças Armadas e de todas as forças vivas da nacionalidade.
O “golpe” teve amplo apoio popular, da mídia – exceto do jornal Última Hora –, do empresariado, dos políticos. Foram, desde então, os estados do Sul e Sudeste, os de maior desempenho econômico e cultural, que deram suporte a 64. Foram estes: Rio Grande do Sul, com o governador Ildo Meneghetti, Paraná, com Ney Braga, São Paulo, com Adhemar de Barros, e Guanabara, com Carlos Lacerda; todos apoiando o grito partido de Minas, do governador Magalhães Pinto e das guarnições federais ali sediadas sob o comando do General Mourão Filho. Deposto o presidente que abandonara o país, foi o Congresso que elegeu o primeiro dos cinco generais, sendo quatro participantes do movimento – Castelo, Costa e Silva, Médici e João Figueiredo.
O Brasil virou potência econômica, cresceu na indústria e na agricultura. Pecou na montagem de uma geração para os suceder e permitiu o retorno à normalidade, vencidos os radicais que sequestravam e subvertiam. Assim não havia para as eleições diretas nomes oriundos da Revolução e a oposição foi buscar velhos caciques da esquerda para eleger, como Brizola, no Rio, e Arraes, em Pernambuco, entre outros.
A direita não aprendeu a fazer política dentro de uma conjuntura de eleições livres. Teve em 2022 uma bela oportunidade, deu ao Brasil um governo positivo que o preparou
para o grande salto, mas se deixou levar pela imprudente agressividade, insensibilidade e até irresponsabilidade A improvável derrota foi construída. Impossível ganhar eleição brigando, polemizando, agredindo, cercado de gente menos no círculo mais íntimo, diferente dos grandes nomes do sucesso na gestão como os ministros Paulo Guedes, Teresa Cristina, Tarcísio de Freitas, Marcos Pontes e outros. Estes nunca foram da intimidade do presidente, que, sem interlocutores de nível, errou na administração do sucesso.
Ao aceitar e participar do processo eleitoral, não podia cometer tantos erros em termos eleitorais. Um candidato que nem vice com votos conseguiu ter. Os governos petistas foram hábeis em convocar nomes do centro como José Alencar, Michel Temer e Geraldo Alckmin. Bolsonaro preferiu um ilustre militar sem votos e sem conhecimento da arte da política. Entrou mudo e saiu calado da campanha.
Erros são bons quando servem para ensinar. E péssimos para serem repetidos.
Publicado em: Jornal Inconfidência 15/06/25