Portugal e Brasil são duas repúblicas curiosamente ligadas a um glorioso passado monárquico. Os grandes vultos da história dos dois países viveram aqueles anos, cujos governantes costumavam ser estimados e respeitados.
No Brasil, o chamado Segundo Império durou 49 anos sob o comando de D. Pedro II, cujo pai, Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal, fez a Independência do Brasil e retomou o poder em Portugal, na luta contra seu irmão D. Miguel, no denominado movimento liberal, que colocou no trono
- Maria II, sua filha. Esta governou com energia e baniu do país o tio, os principais nobres que o apoiaram e seus descendentes.
A divisão da Casa de Bragança, e dos monárquicos portugueses, durou até 1942, quando o herdeiro banido, D. Duarte, foi ao Brasil casar-se com a prima D. Francisca, unindo os dois ramos da Família Bragança. Reis e Rainhas, Imperadores e Imperatrizes são, até hoje, lembrados com admiração e os titulados do reino batizam a maioria dos logradouros públicos nos dois países.
No entanto, foi por ocasião dos 150 anos da Independência do Brasil que os dois governos, chefiados por dois militares, o Almirante Américo Tomás e o General Emílio Médici, ambos austeros e homens de mãos limpas, que actos concretos de sentido histórico ocorreram. Houve até uma troca de visitas oficiais de relevância, que convém recordar.
Em abril de 1972, o presidente Américo Tomás empreendeu histórica viagem ao Brasil, a bordo do navio da armada portuguesa ‘Funchal’, escoltado por três navios da Marinha do Brasil – Santa Catarina, Paraná e Pernambuco. Transportava os restos mortais de D. Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal, abrindo as comemorações do sesquicentenário da Independência.
O cerimonial foi impecável, tendo sido construído na Baía da Guanabara, aos pés do Pão de Açúcar, um cais especialmente para o desembarque, que logo seguiu pela avenida marginal, denominada Infante
- Henrique, em direção ao Monumento aos Mortos na II Guerra Mundial, ponto estratégico do Rio de Janeiro. Ali, Tomas entregou ao presidente Médici a relíquia histórica, que depois percorreu as principais capitais brasileiras, até se fixar na capela do Monumento do Ipiranga, que, desde 1959, por decreto do então prefeito Adhemar de Barros, aguardava a grande honra.
Depois, em 1982, foi a vez de a Impera- triz Amélia, a segunda mulher de D. Pedro, vir a ele se juntar, e a filha Princesa Maria Amélia, que morreu muito jovem, e prometida ao Arquiduque da Áustria, e a primeira Imperatriz do Brasil, D. Leopoldina, da melhor nobreza europeia. Irmã de Maria Luiza, de Napoleão.
O presidente Médici, no ano seguinte,1973, foi a Portugal, em viagem cercada de muito entusiasmo popular, inclusive da comunidade brasileira. Foi ele o presidente que fez baixar o desemprego e controlar a inflação. O país cresceu a níveis só superados décadas depois pela China; e, por último, mas não menos importante, conseguiu liquidar a acção armada de opositores apoiados por Fidel Castro, encerrando um ciclo de atentados e sequestros de diplomatas, como os embaixadores dos EUA, Alemanha e Suíça e o cônsul do Japão em São Paulo. Os militares, naqueles anos, evitaram que o Brasil tivesse uma guerrilha nos moldes da colombiana, que custou mais de cem mil mortos em vinte anos. Por isso, até hoje, figura como um governante duro, quando apenas defendeu a ordem.
Na recepção ao Presidente Médici teve grande relevância o então Ministro Baltazar Rebelo de Souza, pai do atual Presidente da Republica de Portugal. Na visita de Médici, duas recepções memoráveis, na Ajuda e nas Necessidades, e a retribuição brasileira em Que luz, o que, aliás, veio a repetir-se quando da visita do presidente José Sarney, em 1986.
Dentro de quatro anos, teremos os 200 anos [da independência do Brasil]. E, claro, uma nova oportunidade de actos de integração entre os dois países. E as republicas vão mais uma vez recordar os anos de monarquia e seus grandes homens.