O homem público deve procurar atender ao interesse geral de forma objetiva e pragmática. O senso de responsabilidade não permite que seu temperamento ou maneira de pensar a vida se sobreponha ao bom exercício de suas funções.
São inegáveis as qualidades do governador de Minas Gerais como gestor e cidadão que deixou uma confortável e vitoriosa atividade empresarial para servir a Minas e ao Brasil nesta fase que vivemos. Sua corrente de pensamento liberal é a mais correta na busca do crescimento econômico e social, procurando conter a presença onerosa do Estado na vida e no bolso do cidadão.
Agora, em segundo mandato, algumas lacunas em seu comportamento começam a preocupar os mineiros. A mais grave pode ser a de repetir o lamentável exemplo de Bolsonaro, que anulou os feitos inequívocos de sua gestão e pela postura construiu uma improvável derrota. Zema, porém, não pode ser comparado ao trapalhão ex-presidente. Tem outro nível, origem, trajetória.
Políticos mineiros têm tradição de se destacar ao longo da história pela capacidade de fazer política com sabedoria, habilidade, grandeza. Desde o Marquês do Paraná, no Império, a João Pinheiro, Antônio Carlos, JK, Magalhães Pinto, Tancredo Neves e Aécio Neves que foram promotores da união em momentos graves.
O governador Zema tem se descuidado na arte da política. Não conversa com a bancada federal, com as referências da política no campo da tradição e da eficiência. Nunca se preocupou em conhecer e escutar os herdeiros, na política como na sociedade, para agregar valores que possam ajudar Minas para ter a relevância nacional que sempre teve. Os militares tiveram três vices políticos e todos mineiros. A redemocratização uniu Tancredo e Magalhães, que foram adversários por décadas. Não pode abrir espaço para um aliado do Presidente Lula.
O Brasil precisa de uma Minas presente. Esta volta já se faz notar na ascensão do senador Rodrigo Pacheco e dos deputados Aécio Neves e Paulo Abi-Ackel – estes filhos de notáveis políticos –, mas a presença do governador seria sempre importante. Fazer política começa por conversar e ele tem dado mostras de não saber ou não gostar. No jogo político o amador é ocasional pois é mais comum ser jogado por profissionais.
O governador é homem simples, sem vaidades e deslumbramento, não tem a arrogância nem a ignorância de Bolsonaro. Não pode nem deve incidir nos mesmos erros e levar Minas a um retrocesso pela falta de diálogo entre seus melhores quadros. O Brasil não pode nem quer virar bolivariano. Mas, sem união e grandeza, corre riscos.
Publicado em: Jornal Hoje em Dia 19/12/23