O mês de agosto no Brasil marca a trágica morte de Getulio Vargas,em 1954, a renúncia do irresponsável Jânio Quadros em 1961 e a morte de JK em 1976. Três datas que merecem a meditação dos que acompanham a política brasileira e devem ser lembradas pelo protagonismo de tres homens que marcaram época.
Getulio Vargas governou o Brasil por quase 20 anos, primeiro como indicado pela Revolução de 30, depois eleito indiretamente, oito anos entre 37 e 45 como ditador e, em 51, voltou ao poder com o voto popular. Personalidade marcada pela habilidade, bom senso, uso correto da autoridade, acervo de iniciativas que redundaram em progresso social, econômico e político. A popularidade e as mãos limpas facilitaram tal trajetória.
Vargas foi levado ao gesto extremo do suicídio por um dos maiores erros de nossa história. Foi julgado e condenado pela opinião pública que tanto prezava fruto de campanha caluniosa, cheia de ódio, ressentimentos e ambições políticas. O líder da oposição, Afonso Arinos, autor de violento discurso que teria chocado o encurralado então presidente, anos depois declarava arrependimento pelas palavras que proferiu. Não existia o alegado “mar de lama” no governo.
As forças que o derrubaram, derrotadas um ano depois na eleição presidencial, com a vitória de JK, tendo como vice o herdeiro político de Vargas, Jango Goulart, tentaram impedir a posse dos eleitos.
Os anos JK marcaram o período de pacificação nacional, sem represálias, com anistia a dois levantes militares, com anos de muito progresso, otimismo e a meta síntese que foi Brasília. JK foi um realizador e teve a sabedoria de entregar seu plano de metas a dois notáveis brasileiros como Roberto Campos e Lucas Lopes.
Não foi feliz na condução de sua sucessão, deixando que as barulhentas esquerdas indicassem como candidato um militar sem liderança nas Forças Armadas e muito menos apelo popular. Foi eleito Jânio Quadros, um aventureiro que empolgou a burguesia nacional pelas mãos do ambicioso Carlos Lacerda.
Com sete meses de governo, Jânio tentou um golpe pela chantagem de uma renúncia com base na rejeição a seu vice, Jango, que não merecia confiança do parlamento nem dos militares. Este acabou assumindo mutilado por uma emenda parlamentarista, fruto da habilidade do experiente aliado Tancredo Neves. Fraco, Goulart foi manipulado pelas esquerdas que tumultua seu mandato e levaram a crise de tal monta que o país se levantou para derrubá-lo.A Revolucâo foi civil-militar e não golpe.
O regime autoritário que se seguiu abriu uma fase de 20 anos de crescimento econômico, saindo o Brasil da 46ª posição na economia mundial para a oitava.
Perdida a batalha da comunicação, o regime acabou derrotado politicamente e passou o poder à oposição, vitoriosa em chapa equilibrada que reuniu dois homens públicos com respeitabilidade na história: Tancredo Neves, que vinha de Getulio, JK e Jango e José Sarney, político que fez carreira ao lado do regime que acabava. Com a morte de Tancredo, Sarney apresentou bons resultados, apenas de muita inflação. Ficou
fora da sucessão, levada pelo jovem Fernando Collor, que tentou modernizar o país, inovou, abriu o mercado à concorrência, mas naufragou diante de trapalhadas de despreparados aliados.
O país ficou mais clamo pela gestão do mineiro Itamar Franco, que entregou o governo em memorável pleito a um de seus auxiliares, que assinou criativa reforma econômica do agrado da sociedade. FHC tratou de obter a reeleição, que não existia, para depois entregar o poder a Lula, de quem já fora eleitor, o que voltou a ser agora.
Os dois mandatos de Lula da Silva e os dois de sua caricata sucessora, o último interrompido no meio por processo de impedimento, tiraram vantagens de bons ventos mundiais, da estabilidade encontrada, mas se perdeu nos gastos e na gigantesca corrupção que chocou o país.
Ao fim da era PT, o mandato tampão do Michel Temer foi positivo na condução e desastrado na gestão política, desde que não soube manter a distância amigos e aliados de pouca credibilidade, conceito e respeito. Três deles foram presos, sendo que um com milhões em malas.
O eleito, Jair Bolsonaro, foi uma nova versão de Jânio Quadros, sem compromissos, fenômeno eleitoral, com boa direção na economia e na busca de um estado menor e menos intervencionista, com bons resultados, apesar da crise provocada pela pandemia. Foi, entretanto, um desastre no comportamento, insegurança, infelicidade no que dizia, gerou atritos em várias frentes e, em consequência, perdeu as eleições que tinha ganha. Primário, custou a reconhecer e parece ter tentado envolver militares numa improvável e inconveniente intervenção. Hoje amarga um processo de perseguição implacável e não tem aliados que não na força popular que mantém. Foi o grande eleitor de Lula da Silva.
Este mês pode marcar a perda do crédito obtido por Lula, com o avanço das teses de esquerda assustando o capital, o endividamento público crescendo, os gastos descontrolados, os casos de suspeição de corrupção surgindo, descontentamento de setores políticos, gerando combustível para uma crise política. Ao lado de uma aliança externa com o eixo Rússia-China e governos falidos da esquerda latino-americana.
Uma história que se repete que não sabe buscar no passado e fora do país exemplos a serem seguidos.
Publicado em: jornal Diabo.pt 19/08/23