Quando da Constituinte, em 1988, um dos mais atuantes parlamentares do Brasil era o deputado Antônio Henrique Cunha Bueno, nessa altura no terceiro mandato – e após o pai ter tido uma passagem relevante na política brasileira.
Muito hábil, sendo simpatizante da causa monárquica, conseguiu incluir no capítulo referente a uma revisão prevista para depois de cinco anos, em 1993, o plebiscito que submeteria à decisão popular o regime republicano presidencialista, parlamentar ou a restauração monárquica. E assim foi feito, tendo a monarquia obtido 13% dos votos. Resultado muito positivo, pois não existia no Brasil um movimento com representatividade pela opção.
Existe na consciência da população um sentimento simpático na medida em que o mais admirado dos brasileiros é o Imperador Pedro II e a brasileira mais querida, a Princesa Isabel, que assinou, como regente, a abolição da escravidão. Pedro II reinou por 49 anos.
O desencanto da população com a política e o os políticos pode trazer o tema de volta ao debate nacional em caso de eventual crise institucional. Os militares têm fortes vínculos com o Império, sendo Duque de Caxias o patrono do Exército, que foi um estadista de formação militar e comandante na guerra do Paraguai. Já a Marinha tem como nome maior o Marquês de Tamandaré.
Na linha sucessória atual, está o Príncipe do Brasil D. Bertrand, de 80 anos e solteiro. A seguir, D. Antônio, casado com a Princesa Christine de Ligne, seguido do filho D. Rafael. Sem contestação alguma.
Nas últimas semanas, o tema voltou a ser considerado com a repercussão em Portugal e na Europa do casamento da Infanta Maria Francisca, Duquesa de Coimbra, com o advogado Duarte Martins. Foi uma explosão de manifestações de simpatia popular pelos Duques de Bragança, pela própria noiva e com o interesse popular levando à grande cobertura das mídias em geral, sendo foto de capa de revistas portuguesas e francesas. Os próprios nobres europeus e brasileiros presentes aos eventos da boda Real foram surpreendidos pelo interesse despertado e a presença popular diante do majestoso Convento de Mafra, onde aconteceu o enlace. Até o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, compareceu e ficou em posição de honra. A audiência da televisão que transmitiu o casamento foi significativa.
Os brasileiros regressaram pensando no assunto, assim como os portugueses, estes à espera de um Cunha Bueno na Câmara dos Deputados para propor uma consulta popular no futuro.
Na memória histórica dos dois países, a monarquia ocupa uma posição certamente mais sólida do que as tumultuadas repúblicas. E os previstos monarcas são pessoas da melhor qualidade moral e cultural, valores que todos sentem falta. No mais, os países europeus que são monarquia não perecem nada insatisfeitos.
Publicado em: jornal O Diabo.pt 04/11/23