Muito bonito a evolução da informática, o sucesso das startups, as inovações na indústria. Mas a atividade rural, o campo, continua ser vital para alimentar e gerar riqueza.
Os acordos Ucrânia-Rússia, em guerra, em torno da passagem da produção agrícola em direção aos portos mostram que sua importância está acima da guerra. E mais, na agricultura estão algumas das soluções para combustíveis, como o etanol e os biocombustíveis já em uso em boa parte do planeta.
A perda de importância política, pelo eleitorado hoje ser mais urbano que rural, esconde um pouco a agricultura do noticiário e das avaliações econômicas. Mas o preço da alimentação atualmente é um custo político de todos os governos e em todo mundo. Pouco se sabe, entretanto, sobre as potências que abastecem o mundo de produtos essenciais, apesar do impacto da guerra, mais relevante estar na questão do suprimento energético para a Europa.
Uma curiosidade é que a produção de grãos no mundo está muito concentrada nos BRICS – que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, em que quatro dos cinco maiores produtores estão entre eles.
Os maiores nesse setor do mundo são a China, 600 milhões de toneladas de grãos este ano, sendo que mais de 200 milhões de arroz; Brasil, com cerca de 280 milhões de toneladas; EUA, com 230; Rússia, 130 e Índia. A Ucrânia tem boa presença, mas deve colher este ano pouco menos de 80 milhões de toneladas. Só de arroz China, Índia e Indonésia, Malásia, Vietnan e Tailândia concentram boa parte da produção. Países como Brasil e Portugal consomem arroz no mercado interno quase tudo que produzem. As frutas é que estão distribuídas em todo mundo atualmente, umas sazonais outras regionais.
O Brasil, com agronegócio robusto, através da sua empresa de tecnologia agrícola – Embrapa –, uma boa iniciativa do período militar, vem tendo sucesso nas experiências de plantar trigo em áreas tropicais, sendo que, neste ano, deve atender ao mercado do consumo pela metade e espera ser autossuficiente em dez anos.
Com estes anos de pandemia e guerra, outro setor em transformação é o de fármacos. Verificou-se a dependência, com produção concentrada na China, Índia e Coreia do Sul, região com instabilidades e distante dos grandes centros consumidores. Os EUA já invertem a situação em programa fortemente apoiado com recursos públicos. As vacinas são prova. E, claro, a dependência de chips de Taiwan, onde a tensão é permanente, não se justifica mais.
Observação que se impõe é a de que as agriculturas de maior produtividade e lucratividade no mundo estão em países em que o Estado intervém pouco, limitando facilitar o empreendedor com acessos logísticos e impostos razoáveis. Nos países de impostos altos e sem transporte de acesso aos mercados e a baixo custo, o negócio se torna inviável, o campo fica deserto e as cidades sobrecarregadas. No Brasil estão contratados mais de dez mil quilômetros de ferrovias pelo setor privado – caso não haja retrocesso político que afete o ambiente para investir.
Os povos supostamente interessados e precisando estimular a geração de renda e emprego deveriam pensar duas vezes antes de votar.
Não parece ser hora para greves, diminuição de carga horária de trabalho, onerarão da folha de salários com mais impostos e taxas. Plantar mais, taxar menos!
Publicado em: Jornal Diabo.pt 25/09/22