A pandemia descobre realidades que estavam ocultas. Apesar de certa estabilidade em todos os países – mesmo com o agravamento das crises social, com o desemprego, e econômica, com a queda da atividade econômica, endividamento, dificuldades para o recebimento de impostos, de dívidas bancárias –, o quadro mostra uma perigosa calmaria. Vem muita coisa por aí. E a classe política não se apercebeu da realidade e continua achando que o Estado fabrica dinheiro, que não existe ameaça de inflação, de falência sistêmica no setor produtivo em geral. Na verdade, todos, dos estados, às empresas e aos particulares, estão queimando gorduras.
No Brasil, a calmaria vem de certa atividade na economia, especialmente na agricultura que exporta, o comércio de alimentos em alta de quase 10%, em relação ao ano passado, e das injeções de dinheiro por parte do governo central, diretamente para a população carente, via retardo nos vencimentos de dívidas públicas e privadas, no auxílio direto às administrações regionais para honrarem o pagamento dos seus funcionários. Mas tudo tem um limite, e a pandemia parece que reluta em ir embora.
Entre as empresas cotadas na Bovespa, os lucros no segundo trimestre caíram até 80% na média em comparação ao ano passado. O desemprego atinge 13%, na casa dos 12 milhões de trabalhadores. Mesmo assim, houve boas surpresas, como o leilão de duas zonas do Porto de Santos, do setor de celulose, realizado com sucesso, no valor de cem milhões de euros. Nestas semanas, novos leilões estão para ocorrer na área de portos, estradas e ferrovias. A Petrobras deve começar a vender, aos poucos, suas ações na BR Distribuidora, maior rede de postos de venda de combustíveis do país.
O governo quer respeitar o orçamento, mas o Congresso não para de gerar despesas, acrescentando responsabilidades ao Tesouro, sem apontar onde buscar os recursos. A saída do ministro Paulo Guedes, um liberal, pode provocar o caos nos mercados. Este ano já deixaram o país mais de 30 mil milhões de euros em capitais estrangeiros. Um importante alerta.
O mercado financeiro no Brasil vive um momento de indefinições. Os investidores se habituaram a rendimentos sobre o capital, hoje, como na Europa e EUA, quase que nulo. Cerca de um milhão de novos investidores pessoas físicas aportaram nas bolsas e os fundos imobiliários experimentam crescimento. O câmbio está muito especulado.
O setor da educação, com grandes investimentos estrangeiros, vive um momento delicado. Muitas universidades privadas estão endividadas e sem faturamento, com a paralisação das aulas e a crise nas famílias.
Neste quadro de incertezas, superar a pandemia é consenso como prioridade. Mas a população em geral, os mais jovens em particular, no Brasil, mostram total alheamento à pandemia, com praias cheias nos dias de sol, bares congestionados. Em alguns pontos do país, a curva teima em não se estabilizar ou descer.
Os testes com vacinas são muitos. O Brasil, talvez, seja o país do mundo com maior número de convênios para testes da terceira fase das vacinas. A de Oxford é a preferida do governo central, mas São Paulo aposta na chinesa e o Paraná está fechado com a russa.
Paralela à crise geral, há os casos de corrupção, que não se limitam aos escândalos no Rio de Janeiro, com o governador afastado. Apenas no governo central não existem, até aqui, denúncias de corrupção.
Muita água para passar debaixo da ponte até o final do ano…