O governo do presidente Lula da Silva colocou um militante de esquerda no órgão responsável pelo censo. E, coerente com seu pensamento, revela que 54% dos brasileiros são negros ou pardos. Mais um pouco de indígenas e de oriundos da Ásia.
O próprio presidente já “denunciou” o Brasil como um país racista, com a elite branca preconceituosa em relação aos denominados “afrodescendentes”.
Entre os 39 ministérios de seu governo, tem um para povos indígenas, outro para questões raciais.
Até a era PT, a sociedade brasileira reconhecia discriminação aos pobres, mas não percebeu restrições raciais. Machado de Assis era mestiço, Pelé, negro, os grandes músicos, negros ou pardos. Professores, jornalistas, médicos negros ou de outras etnias de sucesso. O problema é social e econômico, e não racial.
Na Bahia, a presença negra entre magistrados, políticos, empresários é relevante. O cantor e ex-deputado Agnaldo Timóteo, negro, costumava dizer que onde o branco rico era recebido ele também era, mas que sofria preconceito quando era pobre.
Agora Lula está a investir “contra as elites” ao aumentar as cotas raciais nas universidades públicas, diminuindo a pontuação necessária para o ingresso. As cotas já ultrapassam a metade das vagas disponíveis, incluindo filhos de famílias com renda inferior a 400 euros equivalentes, pessoas com limitações físicas. Ao assinar lei sobre o assunto, exclamou que “chega de classe média branca nas universidades públicas”. Os educadores de esquerda justificam a menor pontuação, pois os negros estudam em escolas públicas e as classes médias, na rede particular, de melhor qualidade. Já os professores mais conservadores defendem a melhoria da rede básica
Agora a meta “dos movimentos sociais” é não permitir o acesso às universidades de alunos oriundos da rede privada. Lula afirmou que está promovendo uma revolução pacífica na educação. Também nos concursos públicos existe uma cota para afrodescendentes. O que constrange a muitos, pois dá a impressão de que haveria inferioridade de negros, o que não tem comprovação científica. As cotas podem gerar preconceito em relação aos contemplados. E, ao que consta tem muitos brancos pobres….
O mesmo censo revela serem dez milhões de jovens entre 18 e 29 anos que não estudam nem trabalham. Origem da violência urbana. O exagero é tal que a Polícia é cobrada de abordar mais negros e pardos. Ocorre que a população carcerária no Brasil contaria com estimados oitenta por cento de negros ou mestiços, o que acima de tudo mostra razoabilidade nos critérios aplicados pelos policiais.
Os brancos, limitados, correm o risco de perderem o acesso ao ensino superior. A mensalidade de uma faculdade de medicina privada anda entre os 1.500 e 2.500 euros. Os demais cursos a 600 euros, no mínimo, com média de mil.
No ensino médio, o governo central acabou com as escolas cívico-militares criadas por Bolsonaro. Os governos regionais mantêm e São Paulo vai expandir. Estas escolas são públicas e estão entre as de melhor avaliação.
Lula, apesar desse discurso, não nomeou para a Suprema Corte nem uma mulher nem um negro, como lhe foi sugerido pelos ativistas. O nomeado , Flávio Dino, branco desde sempre, na última eleição , em 2022, declarou ser pardo .
Gilberto Freyre, o sociólogo maior, criador do chamado luso-tropicalismo para definir a ausência de preconceito nos povos de colonização portuguesa, é ignorado ou contestado. Todas as avaliações sobre uma escravidão amena está sendo descontruída.
Preocupa a alguns setores da sociedade brasileira a passividade da burguesia, das classes médias, do empresariado que não percebem ou fingem não perceber o que se passa. Faz lembrar aquela última noite no Titanic.
Publicado em: Jornal O Diabo.pt