O Brasil é reconhecido internacionalmente como exemplo de miscigenação racial de sucesso, com uma população com grande diversidade em suas origens e sem nunca registrar problemas por raça ou credo. Herança positiva da colonização portuguesa e da formação cristã, com predominância católica.
A questão da escravidão nunca influiu no relacionamento entre brasileiros afrodescendentes e os demais. Quando da abolição, a população mestiça já era significativa, mas os escravos libertos não chegavam a 5% da população. E a libertação se deu de forma lenta, gradual e segura. Primeiro, a Lei do Ventre Livre, em que os nascidos a partir da sua promulgação não seriam escravos; depois a Lei dos Sexagenários, em que, ao atingir os 60 anos, a libertação era automática; por fim, a Abolição, aprovada no Parlamento com forte apoio da Princesa Isabel, então Regente.
Houve muitos titulados do Império negros ou mestiços, assim como grandes proprietários rurais. Dois dos mais destacados engenheiros do século XIX eram negros, os irmãos Rebouças, cujo pai era deputado pela Bahia e importante proprietário rural na zona do cacau, assim como Machado de Assis, José do Patrocínio e outros intelectuais da época de referência na cultura brasileira. Muitos negros tinham escravos e o comércio teve grande presença dos alforriados. Tema este atestado pelos grandes historiadores e sociólogos, como Gilberto Freyre e o historiador José Murilo de Carvalho, membro da Academia Brasileira de Letras.
Nos últimos 30 ou 40 anos, a esquerda brasileira resolveu colocar na sua agenda a questão do negro na sociedade e passou a exaltar um personagem pouco conhecido, que teria sido o líder de um Quilombo (núcleo de escravos foragidos), no interior do Nordeste. Seria um tal de Zumbi, um Príncipe negro, vendido pelo irmão numa leva de escravos. Com as pesquisas sobre o Quilombo dos Palmares, ficou-se sabendo que, ali, viviam escravos fugidos e outros que se negavam a fugir, mas foram levados e permaneceram como escravos. Aliás, é bom lembrar que os europeus que usaram da mão de obra escrava não foram à África em busca da mão de obra, que era comercializada por líderes tribais negros. Desmistificada a figura de Zumbi, o feriado, em muitos lugares como Dia do Zumbi, foi transformado em Dia Nacional da Consciência Negra.
A Abolição se deu em 1888 e a República, em 1889, 18 meses depois. Assim, a Princesa Isabel não pôde executar o seu projeto de promover o ensino para as famílias negras, que passariam a ter formação em profissões de carpintaria, alfaiataria, pedreiros, técnicos em diversas áreas, e preparar as novas gerações para o acesso à universidade. A República deixou a população negra marginalizada, com a integração se passando de maneira efetivamente muito lenta.
A criação das cotas no ensino superior na atual sociedade brasileira não tem sido positiva. Mesmo sem o uso das cotas, brasileiros com mais de 30% de sangue negro já são maioria. As cotas devem existir para os pobres, como os nordestinos, que acabam nas faculdades privadas, com imenso sacrifício pessoal ou familiar. No mais, como costumava dizer o cantor e deputado Agnaldo Timóteo, “a discriminação no Brasil é social, é pelo poder aquisitivo; onde o negro não entra, o branco pobre também não entra, e onde o rico branco entra, eu também entro”.
Essa inclusão da escravidão na pauta nacional começou nos anos 1920 do século passado, como afirmação nacionalista de que teria o Brasil uma raça própria no mestiço, negando os valores da colonização portuguesa e da imigração, que começou no Império, com D. Pedro II acolhendo os primeiros judeus que aqui chegaram, trazidos por uma espécie de ONG criada pelo Barão Rothschild e agora ressurgiu pelas mãos do PT, como fator desagregador do povo, na política do “nós contra eles” em que se procurou jogar pobres contra classes altas, negros contra brancos, nordestinos contra sulistas, sem muito sucesso. O mito do suposto artista Aleijadinho, surgiu deste nacionalismo que queria ocultar a presença portuguesa no patrimônio artístico das igrejas do Rio e de Minas Gerais. Agora é assunto dos aliados de Lula da Silva.
O melhor trabalho sobre o tema é de autoria do professor Ibsen Noronha, da Universidade de Coimbra, que faz o retrato documentado da questão negra na história.