O Brasil vive uma crise sem pé nem cabeça, sinal dos tempos que o mundo vive. Com uma das dez maiores economias do mundo, 220 milhões de habitantes e com o tamanho de todos os países da União Europeia – oito milhões e meio de quilômetros quadrados –, o país tem dificuldades de chegar a um entendimento em sua sociedade quanto aos rumos a seguir, na busca do progresso e agora, no combate à pandemia.
Com uma população de exemplar miscigenação, que o seu sociólogo maior, Gilberto Freyre, definiu como tropicalismo lusitano, embora com problemas de má distribuição da renda e da cultura, forma um povo cordial, alegre, sem preconceitos. Os anos de governos esquerdistas das últimas três décadas procurou inocular o veneno da divisão entre classes sociais e raças, embora esta última seja de difícil definição, pois os rigorosamente afrodescendentes e eurodescendentens não devem alcançar 15% da população. A miscigenação a partir do início do século passado passou, inclusive, a incluir cerca de 2% de asiáticos, que, na terceira geração, já estavam incorporados ao “luso-tropicalismo”.
O tema relacionado ao “resgate da mancha da escravidão”, à exaltação das revoltas de pequenos grupos de escravos que criavam comunidades independentes, é pauta da esquerda sem maior repercussão na população. Este problema, portanto, não existe e nada tem com o que acontece nos EUA, em relação a negros e hispânicos, e muito menos com a invasão islâmica em alguns países europeus, que tornam latente uma explosão no médio prazo.
O que desune os brasileiros, e tem sido a marca da América Latina, é a discórdia com origem em sementes ideológicas marxistas, que travam os rumos da economia e da paz interna, sem um objetivo específico que não uma mera disputa de política de baixo nível. Sociedades que teoricamente seriam avançadas e prósperas, como é o caso argentino, depois de anos de esplendor no início do século XX – o metropolitano de Buenos Aires é dos anos 1930 e o analfabetismo perto de zero –, têm vivido uma sucessão de crises políticas, ditaduras, espasmos democráticos e muito populismo aliado à corrupção, como nos anos peronistas que vivem. Um país que tinha tudo para ser potência econômica. A “doença” é tão enraizada na região, que o Chile passou quase meio século como modelo de modernidade, racionalidade e ganhou musculatura econômica invejável, com a melhor distribuição da riqueza, parece estar a caminho de grave recaída, vítima justamente de uma pseudodemocracia, que permite a sua automutilação. A Colômbia cresce, depois de sofrer com a guerrilha por décadas, e o pequeno Uruguai parece ter reencontrado o caminho compatível com a cultura e a formação de seu povo.
O Brasil clama por reformas que parecem consenso na sociedade, que nem a oposição critica, mas não andam no Parlamento, pois tocam privilégios inaceitáveis no setor público, com altos salários, muito acima do mercado e no privado, com a necessidade de se eliminar privilégios fiscais para alguns setores da indústria. O auxílio aos cerca de 60 milhões de carentes por oito meses, em função da pandemia, provocou um aumento da dívida que beira, perigosamente, o PIB. Não existe espaço para mais impostos.
O Judiciário tem abusado em intervenções, que assustam investidores. A Ford, com seis mil operários, está encerrando suas atividades em São Paulo e na Bahia; a Sony, fechando sua unidade de Manaus, a única do país; e a FNAC e a Wallmart já se foram. Os bancos estrangeiros já têm posição insignificante e fora do varejo, sendo remanescente o Santander.
Por fim, mas não menos importante, o presidente Jair Bolsonaro continua a falar bobagens, a insistir na linha negacionista da dimensão da pandemia, que não se deve limitar atividades, a colocar em dúvida as vacinas, na contramão do que o mundo ocidental vem fazendo. A vacinação começou, mas com uma vacina que é apliacada apenas na Turquia e na Indonésia. A de Oxford não tem nem uma e sem previsão de receber os insumos da Índia. As demais o governo simplesmente não se interessou e a esta altura deve ser difícil obter uma cota.
Tudo seria mais fácil, não fosse o nacionalismo, o paternalismo, o trabalhismo, o socialismo e os condenáveis vícios da política, que as esquerdas sabem explorar defendendo modelos nórdicos para culturas latinas.