Pior cego é o que não quer ver. A sociedade está revoltada com a impunidade a casos de corrupção. Os escândalos sucessivos e as ações da Polícia Federal e do Ministério Público acabam dando em nada pela ação de magistrados levianos e audaciosos na proteção aos criminosos. Bandidos influentes são soltos, assim como asseclas, incluindo familiares. O povo começa a descrer das instituições, o que é muito preocupante.
Se o Judiciário quisesse, poderia criar forças tarefas para cuidar dos assuntos levantados, inclusive nas suas corregedorias. Os magistrados envolvidos em casos gritantes de corrupção, favoritismo, nepotismo direto ou indireto, são protegidos por um corporativismo inaceitável. A banda boa não pode aceitar esta situação. Carreira tão nobre não pode ser deturpada.
O Legislativo, em especial nos estaduais, também precisa se enquadrar nesta realidade. Inchaço de funcionários, nomeações constrangedoras como as ocorridos com as mulheres de dois ministros para tribunais de contas no Pará e na Bahia desservem à democracia que tanto se fala defender.
Cabe aos governadores, ministros e líderes partidários colocar a seus companheiros que os tempos mudaram, a vigilância é grande e permanente e a repetição dos malfeitos se torna inócua e comprometedora. O Brasil está doente. Falta decoro no exercício de funções públicas.
No Executivo não se verifica qualificações, currículo, passado, experiência de ocupantes de cargos executivos com poder. Quem indica e quem nomeia precisa ter um mínimo de responsabilidade. Não se brinca com estas coisas. A história tem exemplos a serem observados.
O abuso nas chamadas mordomias não se restringe apenas aos beneficiados protegidos por mandato ou função, mas vai até familiares useiros e vezeiros no abuso escandaloso. Vide o caso dos automóveis oficiais do Rio de Janeiro. A punição tem de ser rápida.
A crise na economia, no emprego, no social, na política tende a se agravar pelos desencontros da administração federal em acertar sua equipe, controlar os nomeados e conciliar ideologia com crescimento econômico que depende do setor privado ou de uma escalada inflacionária perigosa. Isso pode gerar um ambiente explosivo tendo como combustível a repulsa a esta série de malfeitos que se repetem, apesar de tudo. Perdeu-se também o pudor e o bom senso.
Publicado em: jornal Correio da Manhã 26/04/23