Curioso que D. Pedro I, no Brasil, e IV em Portugal, não apareça na história como eventual Rei da Grécia, país surgido de longas e sangrentas disputas, em busca de uma liderança com força e carisma. Filho e herdeiro de D. João VI, Rei de Portugal, e autor da Independência do Brasil, com a imagem do liberal, do moderno, ele era sobrinho do controvertido Rei de Espanha, D. Fernando VII, e unido em dois casamentos no que existia do melhor na nobreza europeia da época. Há registros documentais da oferta, recebida com simpatia pelas côrtes portugesas que queriam ver D. Pedro longe do Brasil e de Portugal.
A conspiração não se sustentou. No entanto, atesta a dimensão que a personalidade do monarca luso-brasileiro ganhou naqueles anos pós-Napoleão e de grandes guerras nos Balcãs e uma terrível guerra civil na Espanha, em função do equivocado retorno de D. Fernando. Este, aliás, acabou anulando conquistas liberais na Espanha, já bastante dividida e sofrida.
Em 1940, por ocasião das comemorações do Duplo Centenário em Lisboa, um jovem diplomata brasileiro, com pouco mais de 20 anos, Sérgio Correa da Costa, que chegou a embaixador e membro da Academia Brasilieira, publicou livro cujo título já dizia tudo: As quatro coroas de D. Pedro. E a obra mereceu prefácio de Oswaldo Aranha, que veio a ser seu sogro.
A quarta coroa seria justamente a da Espanha, e com todo sentido. Era sobrinho do Rei responsável por uma guerra civil que marcou a década de 1820, na Espanha, preocupando a Europa da Santa Aliança. Deixou, inclusive, a marca do movimento carlista, que divide os monárquicos espanhóis e é de uma organização primorosa. O grupo, inclusive, foi aliado decisivo quando da guerra civil, lutando ao lado dos democratas e católicos liderados pelo General Franco.
O primeiro documento, com assinatura de significativas personalidades espanholas, data de 1826, em pleno período de sangrentas disputas, acirradas pela alteração imposta por D. Fernando para afastar o irmão Carlos da linha sucessória. Em 1829, houve nova manifestação de patriotas espanhóis, o que mereceu menção na obra de grandes historiadores portugueses, como António Augusto de Aguiar e António Sardinha. Este último chegou a sugerir o título de Imperador Ibérico ao notável e controvertido dono de duas coroas.
Curioso ainda é que, mais de dois séculos depois, os dois países vivem momento comum que, de certa forma, preocupa a Europa, pela união de determinadas alianças políticas, em cada um dos países. Estes perecem andar na contramão do pensamento da Europa, que moderniza sua economia e sua legislação, como forma de superar uma crise nas suas economias e evitar conflitos sociais, que a ninguém pode interessar.
O liberalismo econômico, a diminuição do tamanho do Estado, em funcionários e intervenções na vida dos povos, a responsabilidade nos orçamentos públicos e a baixa no endividamento irresponsável parecem apontar para a única saída da crise, que inclui, em alguns países, políticas de segurança pública menos tolerantes com os infratores – embora estes devessem ser mais visitados pelas forças de segurança do que por autoridades. A história pode ajudar os povos a não repetir erros.