O Brasil vive um momento positivo na economia com base em dois suportes, e gerando perigosa dependência.
Sendo o segundo maior produtor mundial e exportador de produtos agrícolas, abaixo apenas dos EUA, é campeão ou vice de produtos como soja, café, açúcar, suco de laranja, milho, -o terceiro, mas já passando os EUA-, de minério de ferro e vem ganhando relevância no petróleo. O superávit comercial faz com que o país tenha uma das maiores reservas monetárias do mundo, atualmente em mais de 300 mil milhões de euros.
Na indústria a importância fica apenas na celulose. Porém, as reservas têm boa parte pelas aplicações no mercado de títulos, que pagam juros altos – pouco acima de 12%. Mas pode sair de uma hora para outra se qualquer problema maior na economia afetar o câmbio. As aplicações feitas com dólares ou euros em reais têm dado bons resultados não apenas pelas taxas, mas pela valorização da moeda brasileira nos últimos anos.
O ponto fraco tem sido a diminuição dos investimentos na indústria, que provoca defasagem na tecnologia, produtividade e competitividade. O que sustenta a indústria é o mercado interno pela população – 220 milhões de habitantes – e o PIB, que é o décimo segundo do mundo. Mas exportar ficou difícil.
O presidente Lula da Silva tem falado em abrir uma nova fase no setor industrial que denomina de “reindustrialização”. Ocorre que os principais obstáculos não devem ser removidos pelo seu governo. Impostos altos e leis laborais que tornam perigoso o empregar. Lula está aumentando impostos e estimula o paternalismo com medidas demagógicas. Existe um sentimento antiempresarial na esquerda populista, que não permite um ambiente amigável ao investimento. Os impostos podem chegar a 65%, enquanto no Chile é de 34%. A burocracia desencoraja e alimenta a corrupção. Agora o governo quer taxar dividendos.
A indústria automobilística, que chegou a ser a sexta mundial, vem perdendo espaço e hoje as exportações se limitam praticamente a Argentina, Chile e Colômbia. A produção teve queda de 10% este ano e deve cair mais.
Na banca, depois dos governos mais à esquerda, os bancos estrangeiros saíram do mercado brasileiro e hoje apenas o Santander está entre os maiores.
A dependência na venda de produtos primários marca os países mais pobres. Uma economia do porte da brasileira pede maior investimento e pesquisa na indústria para marcar presença no mercado internacional. Hoje os manufaturados são do esforço e da qualidade de algumas empresas do sul do país especialmente e com perda de um terço do que foi dez anos atrás.
Colabora para o clima de desconfiança no Brasil o cancelamento da venda de estatais e de ativos como refinarias. A Petrobras está até recomprando o que já vendeu. E, agora, pressiona acionistas da mineradora Vale para eleger para presidente um indicado e ex-ministro de Lula da Silva, através do fundo dos funcionários do Banco do Brasil e do BRADESCO, que é privado mas que já recebeu pedido de apoio para o indicado.
As estatais, que no governo anterior deixaram de dar prejuízos, voltaram a apresentar péssimos resultados em menos de um ano. O consumo vai bem mas o investimento caiu muito.
A falta em considerar o fator político de muitos agentes e analistas dos mercados oculta uma série de fatores de obstáculos para uma economia do tamanho da brasileira, como o chamado “risco político”. Uma cortina de silêncio sobre o populismo que orienta o governo atual.
Publicado em: Jornal O DIABO.pt