O príncipe herdeiro de Portugal, D. Pedro – que veio a ser o primeiro Imperador do Brasil, como D. Pedro I, e depois regressou a Portugal e assumiu o trono como D. Pedro IV –, teve dois casamentos. Na linha da importância dos casamentos da Casa de Bragança… O pai, Rei de Portugal, e a mãe, irmã do Rei da Espanha. E a mulher, Imperatriz Leopoldina, filha de Francisco II, da Áustria, e irmã de Maria Luiza, mulher de Napoleão.
Leopoldina lhe deu os filhos, foi decisiva no episódio da separação do Brasil de Portugal, mas não chegou a ser uma mulher feliz. O Rio de Janeiro tinha uma Corte que deixava a desejar; o marido vivia envolvido com amantes, tendo chegado a uma famosa favorita, Domitila, a Marquesa de Santos, com quem teve filhos, a primeira com o título de Duquesa de Goiás. Morreu muito jovem, aos 29 anos, a primeira Imperatriz do Brasil, mãe do futuro Imperador Pedro II e da futura Rainha de Portugal, D. Maria II. Recentemente, foram publicadas suas cartas para a irmã, Maria Luísa.
Pedro teve dificuldades para o segundo casamento, uma vez que sua fama não era das melhores entre as famílias reais europeias. Além de Domitila, manteve ligação íntima com a irmã dela, Marquesa de Sorocaba, Maria Benedita de Castro Canto e Melo, que, com a Independência do Brasil, voltou com o marido para Portugal, onde deixou grande descendência, entre as quais a família Castro Pereira. A paternidade de seu filho Rodrigo de Castro Delfim Pereira era atribuída ao Imperador.
Mas acabou encontrando uma grande mulher, e bem situada, em D. Amélia de Leuchtenberg, filha do enteado de Napoleão, por ele perfilhado, Príncipe Eugenio de Beauharnais e da Duquesa de Baviera. Deste casamento, nasceu a Princesa Maria Amélia, que faleceu aos 22 anos. Ela o acompanhou a Portugal até sua morte , no Palácio de Queluz, curiosamente no mesmo quarto em que havia nascido. D. Amélia nunca deixou de manter contato com os enteados. Recentemente, foram publicadas suas cartas para a irmã, a Imperatriz de França, Maria Luísa.
Já o Imperador Pedro II teve seu casamento programado com a Princesa Teresa Cristina Maria, de Nápoles, da família Bourbon-Duas Sicilias, muito conceituada no mundo monárquico da época. Especula-se muito da decepção do jovem Imperador ao constatar que a sua escolhida por diplomatas era de estatura baixa e puxava de uma perna. Mas tiveram um casamento de 45 anos tranquilo, apesar do intenso romance do Imperador com a Condessa de Barral, uma brasileira que vivia em Paris, e tinha o título brasileiro de Viscondessa da Pedra Branca.
A Condessa de Barral foi a educadora das duas filhas dos imperadores e chegou a acompanhar o casal em viagens a Europa e Oriente Médio. O antigo embaixador do Brasil em Lisboa, Heitor Lira, nos anos quarenta, escreveu uma excelente biografia de D. Pedro, mas fala apenas nas especulações sobre o romance. Ocorre que, mais tarde, a família da Condessa de Barral, que vive em França, doou ao Museu Imperial de Petrópolis, volumosa correspondência entre os dois, que tira qualquer dúvida sobre o intenso romance.
As cartas eram enviadas por ela, no papel da época, que era muito grosso, e respondidas por ele no verso, o que permitiu o conhecimento de quase todas. Muito discreta, não tinha carisma, mas muita categoria, inclusive ao administrar o romance com a presença da Condessa no próprio Palácio Imperial, em São Cristóvão, onde se encontra o Museu Nacional, que sofreu um incêndio este ano.
A Imperatriz chegou a Lisboa, em início de dezembro de 1889, e faleceu no Porto, no último dia do mês. O Imperador foi viver em Paris, onde estreitou o convívio com a Barral – Luisa Margarida. Ela morreu em janeiro de 1891 e ele, em dezembro, dizem que de tristeza.
Pedro II foi velado na Madeleine, em Paris, transportado para Lisboa de trem, onde ficou até ser enviado ao Brasil, nos anos cinquenta. Hoje as três estão na Catedral de Petrópolis, a Cidade Imperial, próxima ao Rio de Janeiro .