Como não podia deixar de ser, o sr. Affonso Costa foi lembrado neste centenário da I Guerra Mundial, em que Portugal entrou desnecessariamente, perdendo preciosas vidas e agravando as dificuldades que vivia sua economia e seu povo. Affonso foi o paladino da entrada de Portugal na Guerra, depois de haver, anos antes, se destacado na implantação da República, que pouco acrescentou à história do país.
Ora, esse senhor, dono de brilhante inteligência, tornou-se uma personalidade histórica, estando sempre do lado errado, equivocado ou de má-fé. E mais: tratou logo de trocar Lisboa por Paris, onde viveu, e parece que muito bem, muitos anos.
Não é sem mérito que mereceu palavras ácidas da grande Rainha Amélia, que, em suas anotações, deixou registrada a profunda mágoa, revolta até, com a forma grosseira com que este então propagador da República se referiu ao Rei D. Carlos, no Parlamento. O depoimento da rainha seria por sí só é suficiente para que o personagem figure na foto da história de maneira desconfortável. Mas parece que teve e tem lá seus admiradores.
Por outro lado, são tímidas as referências aos relevantes serviços prestados a Portugal e aos portugueses por António de Oliveira Salazar, ao agir com talento e habilidade no sentido de não participar da II Guerra, preservando o país que estava se recuperando da interminável crise aberta com os desmandos da República. O estadista fez ainda de Portugal segura rota de fuga aos judeus sob risco e garantiu o cruzamento do Atlântico para as tropas americanas através da parada estratégica nos Açores. O mesmo, ainda neutro, fez Getulio Vargas no Brasil com a Base de Natal, cedida aos norte-americanos e que mereceu uma visita pessoal do presidente Roosevelt. Ainda se nota certa pusilanimidade nos analistas ao reconhecerem o quanto a neutralidade foi boa para Portugal em termos de vidas humanas e que, apesar da pressão soviética, não impediu que o país participasse das entidades multilaterais, como a ONU, criadas no pós-guerra.
Engraçado os que teimam em mostrar um Salazar longe da modernidade, da realidade do mundo em transformação depois do conflito, apesar de revelações dignas do reconhecimento nacional, como as publicadas recentemente pela revista Sábado. Esta comprova o gestor moderno que contratou empresa de relações públicas de Nova York para a promoção de Portugal como destino turístico, como cenário de filmes e até mesmo ajudando a levar ao mercado americano a música portuguesa por meio do lançamento e da própria presença da inigualável Amália Rodrigues. Com orçamento modesto, muito bem gerido por seu governo, deu a arrancada para a atração de turistas, hoje uma referência fundamental na economia e na vida social de Portugal.
É sempre oportuno relembrar também que partiu dele o chamamento a grandes empresários para dar a Lisboa um hotel igual aos melhores da Europa, o que foi feito com a construção do Ritz, e a preservação do Algarve para um turismo seletivo, de qualidade, e não para operários dos países mais desenvolvidos, que vinham gastar a eletricidade importada e sobrecarregar a infraestrutura. A popularização pós 25 de abril, prejudicou mais do que ajudou o sul de Portugal, que é referência como destino não pela proliferação dos T0, mas, sim, pela Quinta do Lago, Vila Moura e seus campos de golfe.
A dignidade da postura portuguesa em relação ao mundo veio a se confirmar depois, pelo primeiro-ministro Marcelo Caetano, quando em carta ao presidente Richard Nixon sobre a renovação do acordo dos Açores. Nela, afirmou que o que movia Portugal era, principalmente, servir ao ideal de defesa da humanidade contra a ameaça do domínio soviético, mesmo que isso não merecesse o reconhecimento esperado. Ele revelou estas palavras, já no Brasil, em almoço na minha casa, ao jornalista Adirson de Barros, que as publicou em um de seus livros.
As barreiras à verdade começam a cair!!! Graças a Deus!