Há semanas o presidente da França Emanuel Macron esteve em visita de três dias ao Brasil, recebido com tapete vermelho pelo presidente Lula da Silva. A pauta não teve nenhum item de relevância econômica. O acordo União Europeia e Mercosul, condenado pelo dirigente francês, pouco foi referido.
A visita começou pela Amazônia, no Pará, tendo os dois presidentes entrado na floresta de mãos dadas para tirar fotografias com o Chefe Raoni. Macron condecorou Raoni com a Legião de Honra. Nenhum comentário ao fato das dificuldades dos indígenas na região estarem no mesmo depois de 15 meses de governo de esquerda que se propunha “a resgatar os índios da fome”.
O mais curioso, no mínimo, foi a naturalidade com que os textos de alguns acordos envolvendo a região se referiu à Guiana Francesa como “a França Ultramarina”, nos dois idiomas. Ora, a esquerda brasileira sempre apoiou os movimentos separatistas no ultramar português. No governo Jânio Quadros, chegou a votar na ONU contra Portugal. Agora os mesmos países que caíram no discurso soviético ignoram a “França Ultramarina” que está presente na Guiana e no Caribe.
A emancipação do ultramar português foi a grande vitória do Partido Comunista no 25 de Abril. E o governo Geisel, no Brasil, foi o primeiro a reconhecer Angola. Cabe lembrar que a Guiana francesa foi durante muitos anos anexada ao Brasil por D. João VI, que a devolveu a França em 1815 para que Portugal participasse da reunião dos países que formaram na coligação contra Napoleão, exigência de Luiz XVIII.
A visita teve o lançamento de um submarino de alta tecnologia da Marinha do Brasil, que contou com projeto francês e um jantar em São Paulo, com intelectuais da esquerda e esquerda moderada. O presidente francês disse que conversou com Lula sobre Ucrânia, Gaza e Venezuela.
Lula aproveitou as críticas de Macron a Maduro para condenar o processo eleitoral em curso no país vizinho, dando a entender que estaria revendo seu apoio ao ditador venezuelano. Na verdade, Lula já tinha decidido se afastar de Maduro considerando que a aliança com o regime chavista estava entre os motivos da queda de sua popularidade no Brasil.
Na troca de condecorações, Macron fez entrega da Legião de Honra à influente mulher de Lula, Janja.
A visita encerrada em Brasília com um almoço oferecido por Lula não teve nenhum fato relevante. Até a mídia que trata bem Lula registrou que a viagem nada teve de concreto ou objetivo.
Consta que, em meio a críticas da ala mais esquerdista do PT, pelas posições da França de apoio a Ucrânia e a Israel e às fortes críticas a Venezuela, Lula teria lembrado
que o presidente francês era de esquerda, tendo sido ministro do governo socialista de François Hollande.
Publicado em: Jornal O Diabo.pt 06/04/24