Os problemas surgidos para o escoamento da produção agrícola da Rússia e da Ucrânia expõe a fragilidade da agricultura para saciar a fome da população em todo mundo. E ainda mostra a presença significativa dos dois países nos fertilizantes, que garantem qualidade e produtividade aos grandes grupos que investem no agronegócio em outras partes do mundo.
Tem mais: o transporte de grandes volumes pede os grandes barcos e são poucos os portos em condições de receber estas embarcações. Em Santos, maior porto da América Latina, o acesso destes barcos é precário e, ao cancelar o processo de privatização, o governo Lula torna mais difícil a solução. São grandes distâncias e pedem grandes embarcações que começam a surgir. Os grandes produtores e consumidores estão na Índia, Indonésia, Rússia, China.
A liberdade para empreender e as políticas fiscais são fatores importantes, assim como os meios de dar acesso aos portos. No Brasil, ainda é possível que uma baixa nos preços da soja, por exemplo, impossibilite a exportação de parte da produção pelos custos da logística no transporte, que pode chegar a mais de mil quilômetros.
A agricultura deixou de usar mão de obra barata. Um operador de máquinas, desde o trator às grandes colhedeiras, tem salários que vão dos dois aos seis mil euros mensais, mais benefícios. E culturas lucrativas podem ser viáveis com propriedades pequenas, de até cinco hectares, com boa rentabilidade. Uma delas é, no Brasil, o café, que tem quase a metade da produção, a maior do mundo, com 36 milhões de sacas, de pequenos produtores que ocupam de cinco a 12 pessoas trabalhando.
O agronegócio no Brasil empega quase 30 milhões de trabalhadores e representa cerca de 40% das exportações. Mais os 20% da mineração, ferro em especial, coloca a economia de exportação no interior do país.
Os números não param de crescer, como a produção de açúcar, a maior do mundo, com 40 milhões de toneladas, sendo que 30 para exportação. No etanol, de cana e milho, o país já é o segundo do mundo, devendo crescer com o aumento da produção do milho, que este ano vai a 130 milhões de toneladas. A soja vai bater 160 milhões de toneladas, mantendo o faturamento mesmo com a queda nos preços com a baixa no consumo da China, maior importador do produto do Brasil, EUA e Argentina.
Nos anos 1980, o Brasil tentou sensibilizar os EUA e países da América Latina a um projeto de largo alcance de produção de etanol a partir da cana, com a garantia de mercado e preço pelos EUA para uma mistura de até 20% na gasolina. Assim seriam gerados empregos e renda no continente e ainda sobraria mercado para os produtores de etanol de milho nos EUA. Mas o pouco entusiasmo americano foi acrescido de restrições da esquerda dos países favorecidos, que não queriam gerar “dependência dos EUA”. Os empregos que seriam gerados na América Central poderiam chegar ao milhão e meio de trabalhadores. Agora o Brasil vai passar, em dois anos, a misturar
trinta por cento e não os vinte e dois atuais por questões ambientais. Seria a redenção dos países da America Central e Caribe…
A mistura do etanol é recomendado hoje pelo lado ambiental.
Publicado em: Jornal Diabo.pt 09/09/23