A eleição presidencial do Brasil, que vai se dar no mês de outubro, com primeira volta dia 2 e segunda dia 29, será a mais importante de todas, considerando o atual quadro da América Latina, com agressiva escalada das esquerdas, muito próximas do ex-presidente Lula da Silva, que lidera as sondagens eleitorais. Como as mídias procuram ocultar o que se passa nestes países em crise política, econômica e na escalada totalitária, vale uma avaliação de alguns países neste momento – lembrando que o Brasil representa um terço da economia da região.
ARGENTINA – O país foi o de melhor nível de educação, equilíbrio nas contas, distribuição de renda, até que nos últimos 30 anos o peronismo assumiu posições populistas com viés de esquerda. O processo democrático trouxe a corrupção institucionalizada e foi apenas um mandato do centro democrático, que nada pode fazer por influência sindical e do Parlamento sem maioria. A inflação deve bater 100% até o final do ano. A crise política tem como centro a vice-presidente, Cristina Kirchner, acusada de corrupção, que teve dois mandatos na presidência, depois dos dois de seu falecido marido, Nestor, cercados de acusações de corrupção também. Mas mantém popularidade e soube explorar um atentado o que sofreu. A desordem na economia e o cerco aos produtores crescem. O presidente Alberto Fernández é próximo de Lula da Silva.
VENEZUELA – A mais dramática situação é desse país, um dos três maiores produtores de petróleo do mundo, que para voltar a exportar teve de entregar sua empresa estatal à gestão da China. O aumento do preço do óleo permitiu um alívio na escassez de produtos no comércio, embora ainda tenha restrições na oferta de alimentos, medicamentos e produtos de higiene pessoal. Um sexto da população fugiu nos últimos cinco anos para Colômbia, Brasil e EUA, e os indicadores econômicos colocam o país no mesmo patamar do Haiti. Oposição e liberdade de imprensa inexistem. Em entrevista, Lula da Silva negou-se a comentar o que se passa no país dirigido por seu amigo Nicolás Maduro, pois “respeita a autodeterminação dos povos”. Maduro vem promovendo uma abertura a economia de mercado e aliviou falta de produtos no comércio Mas o país ficou sem quem possa consumir. Estes estão fora há muito tempo.
NICARÁGUA – A ditadura de Ortega , que dura mais de três décadas, está em choque com a Igreja, tendo prendido recentemente um bispo e inúmeros religiosos. Expulsou do país a ordem fundada pela Madre Teresa de Calcutá. E fechou inúmeras rádios católicas. O Papa Francisco comentou suavemente o que ocorre em consideração ao grupo político com o qual se afina. Como argentino, tem dado mostras de apreço a Cristina Kirchner. Lula da Silva, quando presidente, financiou obras na Nicarágua nunca pagas.
CHILE – Desde a queda de Salvador Allende, viveu anos de crescimento econômico, reformas que fizeram do país o mais próximo do primeiro mundo. Mas fez opção recente pela esquerda e vive grave crise política e em dificuldades para legitimar uma nova carta, que alimenta divisões com povos originais e gera ambiente negativo ao investimento. Na economia, sofre com a queda do preço do cobre, do qual é o maior produtor mundial. O presidente Gabriel Boric se tornou impopular em um ano. A Constituição feita pelas esquerdas não foi aprovada pelo povo em consulta.
PERU – O radical de esquerda Pedro Castillo em menos de um ano renovou quase todo seu governo, tem a desaprovação de dois terços da população e sofre acusações de corrupção, com uma cunhada presa e dois cunhados impedidos de deixar o país. Pode ser afastado pelo Parlamento a qualquer momento. Sua vitória foi saudada por Lula da Silva.
COLÔMBIA – A mais recente vitória eleitoral da esquerda radical na América do Sul foi a do ex-guerrilheiro do movimento M-19 Gustavo Petro, que assumiu mês passado e foi logo afastando 30 oficiais do Exército, abolindo a política contra o aborto e dando apoio a sua vice, a ultrarradical Francia Márquez, afrodescendente, que esteve visitando Dilma Rousseff no Brasil, onde declarou que “a vitória de Lula vai ser magnífica”.
MÉXICO – Um esquerdista moderado, López Obrador é solidário com os governos esquerdistas e se manifestou solidário à Cristina Kirchner quando do pedido de prisão pela Justiça. Dependente dos EUA, contemporiza com Cuba e recentemente aceitou a presença de quase cem militares cubanos para vigiar os médicos contratados pelo México, no estilo que Lula da Silva fez no Brasil, em que os profissionais recebiam apenas 20% do pago a Havana. No Brasil, com o fim do contrato promovido por Bolsonaro, mais da metade pediu asilo, apesar das punições às famílias retidas em Cuba.
Por isso, independentemente dos erros comportamentais de Bolsonaro, a possível eleição de Lula da Silva pode transformar o continente num problema para os EUA a o capitalismo democrático na região.
Publicado em : jornal Diabo.pt 19/09/22