Credencial de político sempre foi a de aproveitar a passagem por cargos no executivo, em todos os níveis, para mostrar serviço e chegar à Presidência da República.
Mas a história nem sempre foi assim nos tempos republicanos. Talvez a exceção seja JK, que plantou e pavimentou sua candidatura com as credenciais de grande prefeito de BH e de governador de Minas. Outros chegaram lá mais pelo discurso do que pela obra, como Jânio, e pela base popular e partidária, como Jango – neste caso, contou ainda duas eleições de vice-presidente e uma renúncia.
Collor também veio no discurso da modernidade e teve como seu grande competidor Lula da Silva. FHC foi resultado da habilidade de Itamar Franco em combinação com sua boa imprensa e perfil positivo. Mas não fosse Itamar não seria nem reeleito senador e teria dificuldades numa eleição de deputado. Esta é a verdade e quem conhece a política nacional não pode deixar de confirmar.
Michel Temer é um caso singular. Foi levado pelos acontecimentos a assumir os destinos do Brasil em sua mais grave crise. Mas tem 75 anos, vida pessoal bem resolvida, sem maiores aspirações que não a de entrar para a história como verdadeiro salvador da Pátria. Confirmado no cargo, sabe que só existe um caminho para que o país não caia no caos econômico, com os naturais reflexos no político e no social. Tem de promover as reformas sem ceder às forças do atraso. Na trabalhista, para termos mais empregos; na previdência, para dar credibilidade às contas públicas; na diminuição do Estado; para abater passivos e ganhar produtividade. Precisa mexer no Judiciário, para acabar com as aberrações de um juiz de primeira instância parar projetos fora de sua jurisdição, intervindo na vida nacional, quando não dando vexame internacional.E fazer funcionar as corregedorias para pôr fim aos casos de abuso de poder. E ainda: vencer a burocracia que estrangula o empreendedorismo, facilita a corrupção e inibe a criação do emprego. O que o Brasil espera é que o presidente Temer diga aos políticos e amigos que seu compromisso maior é com sua biografia, o legado aos seus filhos e o bem do Brasil. E os incorporar no projeto.
O povo e os políticos distanciados dos novos tempos o apoiarão. Ao ter coragem de narrar seus bons propósitos, parece claro que fora deste receituário, com uso da autoridade e apoio dos agentes da ordem, não temos salvação possível. Quem viver verá!