Encontro casual de amigos que frequentaram a política carioca e fluminense na mocidade, dos anos 1960 aos 1980, levou a recordação da qualidade de nossos políticos de então na Assembleia, na bancada federal e nos executivos. Realmente, de tendências tão diferentes, homens de nível, categoria, espírito público.
Começando por governadores e senadores, os nomes lembrados pelos veteranos da reportagem política realmente impressionam. Governadores da Guanabara, adversários e até inimigos pessoais, Carlos Lacerda e Negrão de Lima foram grandes gestores, responsáveis por obras marcantes.E personalidades da república por mais de trinta anos.
Lacerda fez os túneis Rubens Vaz e Rebouças, e acabou o Santa Bárbara. Com os recursos da Aliança para o Progresso, construiu Vila Kennedy, Vila Aliança e Esperança, começando a remover as favelas da zona sul da cidade.
Negrão de Lima foi o maior do século passado, acima até de Pereira Passos. Afinal, o que seria do Rio sem o alargamento da Avenida Atlântica e os acessos a Barra da Tijuca? Com os recursos do BNH, construiu 35 mil habitações populares, removeu as favelas mais emblemáticas da orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, como Catacumba, Macedo Sobrinho, Guarda, Piraquê e Ilha das Dragas. Criou o campus da UERJ, que merecidamente leva o seu nome.
O antigo Estado do Rio teve um patrono e líder da dimensão do Comandante Amaral Peixoto, primeiro interventor, no Governo Vargas, seu sogro, governador eleito, senador duas vezes, ministro de JK, embaixador nos EUA. Um gigante! E teve também Miguel Couto Filho, Edmundo Macedo Soares e Raimundo Padilha, este um dos maiores oradores de nosso Congresso.
A fusão imposta pelo menos nos deu um governo de bom nível com o Almirante Faria Lima.
Os senadores nem se fala… Gilberto Marinho, dois mandatos, Hamilton Nogueira, Mozart Lago – o líder feminista pioneiro –, Nelson Carneiro Vasconcellos Torres o, generais Caiado de Castro, Napoleão de Alencastro Guimarães, , Paulo Torres.
As bancadas na Câmara dos Deputados era uma seleção de notáveis. Na UDN, Flexa Ribeiro, Adauto Lúcio Cardoso, Célio Borja e Mário Martins, que teve a dignidade de renunciar ao romper com Lacerda , com cujas sobras se elegera, Álvaro Valle, Prado Kelly, Rubens Berardo, Juarez Távora, Menezes Cortes, entre outros.
Na Assembleia, custa a acreditar que tenhamos tido tão alto nível, com Cotrim Neto, Gladstone Chaves de Melo, Temístocles Cavalcanti, Silbert Sobrinho, Augusto do Amaral Peixoto, Jamil Haddad, Yara Vargas, Mário Saladini.
Ficamos a nos perguntar: Quem errou? O erro terá sido da Revolução por não ter formado quadros? O distanciamento e o enfraquecimento do empresariado, que naqueles anos tinha lideranças do porte de Rui Gomes de Almeida, Zulfo de Freitas Mallmann e tinha grandes empresas sediadas aqui? As mudanças no comando das redações, até então influenciadas pelos donos dos jornais e revistas?
O bipartidarismo abriu espaço para a política menor representada pelo Sr. Chagas Freitas e depois para uma ala ideológica, mais preocupada em agitar do que a trabalhar pelo Rio. A ARENA, partido oficial, nunca teve apoio dos governos militares, sobrevivendo pelo prestígio de seus parlamentares.
Com a abertura política promovida pelo presidente João Figueiredo, o Rio deu uma recuperada parcial, agregando nomes da relevância de Roberto Campos e Francisco Dorneles. Depois veio a safra de jovens revelada por Cesar Maia, na Prefeitura, em que seu filho, Rodrigo, e Eduardo Paes são referências.
A união do que resta de elite no sentido tradicional, dos mais preparados (e não dos mais ricos, como alguns supõem), poderia preparar nomes para trazer de volta prestígio, respeitabilidade, credibilidade e dignidade a política do Rio de Janeiro..