Em meio a tempestade provocada pela crise na economia e a brutal queda da receita com o petróleo (o Rio é o maior produtor nacional), há, pelo menos, uma boa notícia.
A ação de Francisco Dornelles no comando do Estado do Rio, durante a licença médica do governador Pezão, levantou com autoridade e credibilidade a questão do endividamento dos estados, e até mesmo dos municípios. E de forma exemplar, no desprendimento e na coragem em que se mostrou aberto a uma colaboração do governo federal na gestão do caixa.
Na verdade, parte do drama vivido pelos estados é devido aos juros da dívida consolidada junto ao governo federal, implacável na cobrança e insensível na renegociação que a realidade impõe. Acuados, os governadores vão procurando sobreviver enquanto não surge a inevitável solução. O final do ano está aí e as dificuldades tendem a se agravar. E o momento é este.
No entanto, o grito de alerta do governo fluminense trouxe o peso de um homem público dos mais completos, tendo sido ministro da Fazenda, do Trabalho, da Indústria e do Comércio, deputado por cinco legislaturas, senador e presidente nacional de um dos cinco maiores partidos do país. Dornelles, além de preparado como economista e professor, alto funcionário de carreira do Ministério da Fazenda, é político nato, tendo exercido muito jovem a função de secretário particular do primeiro-ministro, seu tio Tancredo Neves. Seu pai, General Mozart Dornelles, fez carreira militar e de gestor público respeitado. O tio Ernesto, também militar, foi governador e senador pelo Rio Grande do Sul. Não poderia ter tido melhor escola e melhores mestres.
Exemplo, infelizmente, raro na política, tem sido de extrema correção com o governador licenciado por motivo de saúde, mostrando na postura discreta, mas firme, ao enfrentar a tormenta, a grandeza do homem público e da figura humana.
O gesto político de repercussão nacional, certamente, já está provocando frutos no encaminhamento do ordenamento das contas estaduais, evidenciando a gravidade do momento e da importância dos altos mandatários se preocuparem menos com a próxima eleição e mais com o futuro do país. Ou seja, precisam ser mais estadistas e menos politiqueiros.
O brado do Estado do Rio foi mais do que um ato voltado para a crise local e muito mais um fator determinante de uma solução rápida e realista para o drama vivido pelos estados, com reflexos sociais profundos.
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