Na história do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o posto de embaixador em Lisboa mostra toda a importância e dimensão na ligação entre os dois países. Raras oportunidades em que o titular da Embaixada foi um simples funcionário de carreira e, quando o era, chegava a altas posições, tanto na República como na cultura.
Ocupantes do próprio Itamaraty – como é chamado o MNE no Brasil – foram muitos, como Francisco Negrão de Lima, também prefeito e governador do Rio, que deixou raízes profundas em Lisboa, assim como José Aparecido de Oliveira, ministro da Cultura, parlamentar e criador, junto com Mário Soares, da CPLP. Foram ainda ocupantes do Ministério das Relações Exteriores e chefes de missão em Lisboa, Azeredo da Silveira e Luis Felipe Lampreia, este, aliás, neto de diplomata português que deixou família no Brasil.
Na literatura, marcaram presença escritores como Dario Castro Alves, Alberto Costa e Silva e Heitor Lyra. Outros notáveis na função foram o jurista e ministro da Justiça Luiz Antonio da Gama e Silva, políticos como Olegário Mariano, diplomata e parlamentar, e até um presidente da República, Itamar Franco. Além de famílias com tradição na diplomacia, o que até bem pouco era uma realidade, presentes com José Bonifácio de Andrada e Silva – descendente do Patriarca da Independência – e Carlos Ouro Preto.
Houve equívocos, claro. E o maior deles foi justamente no governo de um amigo de Portugal, o presidente Juscelino Kubitscheck, que tentou corrigir o erro de escolher o sr. Álvaro Lins para sua Casa Civil, cargo mais ligado à Presidência da República. Mas Lins era um homem de mal temperamento e com pretensões de saber e poder tudo. Assim, para retirar o incômodo auxiliar, JK o “promoveu” a embaixador em Portugal.
O escolhido logo se portou, como se diz popularmente, como um “macaco em casa de louças”, criando os maiores constrangimentos para o governo brasileiro. Com aspirações a grande intelectual, o que nunca foi, reunia os maiores nomes da cultura portuguesa que formavam na linha de frente da oposição ao governo Salazar, fazendo da embaixada um centro conspiratório.
Juscelino teria chegado a telefonar para Lisboa, pedindo moderação a seu antigo auxiliar e representante pessoal, como embaixador, junto ao governo português. Não atendido, JK o demitiu e nomeou Negrão de Lima, que, como já referido, foi dos melhores ocupantes da Embaixada, ainda na Rua da Emenda. Aliás, quando da entrega da casa, em 1974, o embaixador de então, General Carlos Alberto Fontoura, não se portou muito bem ao deixar o imóvel em curto prazo, logo invadido. Os proprietários, da família do Marques da Foz, teriam tido de adquirir dos invasores alguns quadros de valor que ali estavam. E o Brasil comprou, na ocasião, a atual residência, no Restelo, então casa do empresário Manuel Queirós Pereira, que teve de deixar Portugal, perseguido pela chamada revolução democrática, e precisava de recursos para viver no exílio.