O regime vigente em Portugal, quando do 25 de abril, não era uma democracia liberal clássica, como a existente na França ou na Inglaterra. Era um regime com viés autoritário, mas com plena liberdade do direito de ir e vir, respeito à propriedade, boa segurança, austeridade e seriedade no trato da coisa pública. Nada de corrupção nem de apadrinhamentos. Prevalecia o critério do mérito. Havia respeito, disciplina, ordem.
Certamente, a abertura poderia ter sido mais rápida, mas foi conduzida com cautela para evitar a ameaça sempre existente, e confirmada pelos fatos, do oportunismo comunista. No entanto, o que precisa ficar esclarecido, para as novas gerações e para o bem da história do país, é que o movimento, tratado com tanto romantismo, fez Portugal viver tempos de irresponsabilidade, com a queima de preciosas reservas internacionais e agressão aos direitos humanos, visto que tiveram prisões sem motivo de empresários e profissionais liberais. Além disso, houve a expropriação de empresas e invasão de imóveis, muitos residenciais.
Propriedades agrícolas foram tomadas por supostos agricultores, uma vez que a produção caiu, e os rebanhos, abatidos sem critério algum. Empresas prósperas entraram em dificuldades e até salários deixaram de ser pagos. O melhor da inteligência e da capacidade empreendedora do país tomou o rumo do exterior. Muitas famílias foram divididas – algumas permanecem até hoje fora de Portugal.
Por pouco que Portugal não foi incorporado às colônias dominadas pela então URSS. E foi impedido menos por uma ação política e mais pela evidência dos rumos que o país estava tomando na direção do caos e da pobreza.
O Professor Salazar e seus herdeiros, talvez, tenham demorado a integrar Portugal ao novo mundo surgido no pós-guerra, saindo da rota das multinacionais que despontavam, dando emprego e agregando tecnologia nos países europeus, com avanços no campo social. Deve-se muito desta demora à ação do comunismo internacional, que alimentava movimentos ditos de libertação dos estados ultramarinos. Com o tempo, os portugueses tiveram de deixar a terra em que viviam e trabalhavam muitos já ali nascidos. Já os portugueses de origem africana acabaram divididos, em lutas sangrentas, transformando territórios prósperos em áreas dominadas pela violência e a corrupção, com centenas de milhares de mortos ou mutilados.
Depois de 1982, as coisas mudaram. O país cresceu, evoluiu, mas ficou o espírito da divisão e do radicalismo, fator que vem impedindo que se aproveite uma conjuntura favorável para atrair investimentos geradores de empregos e de renda, para que se possa honrar sem problemas um preocupante endividamento do Tesouro Nacional. E o custo do Estado aumentou muito , a começar pelas Camaras.
São urgentes o desarmamento de espíritos e o realismo no trato dos assuntos que tocam à economia – hoje num debate acadêmico, elitista, indiferente aos que precisam de emprego, de melhores salários, de serviços públicos mais eficientes. Para tal, impõe-se um pacto social, que contenha o sindicalismo selvagem, que só pode levar ao desemprego.
Portugal pode ter uma economia forte e não ser somente um bom lugar para se viver, atendendo aos que buscam seu clima, sua segurança e seus serviços a bom preço. É preciso cuidado com os que se arvoram de defensores do povo. Estes não amam os pobres, apenas não gostam dos ricos, que, no final, são os geradores de empregos e de impostos.
Aristoteles Drummond, é jornalista, vive e escreve na imprensa do Brasil. É Comendador da Ordem do Mérito da Republica Portuguesa.
Artigo Jornal O Diabo – Portugal/Lisboa 17/04/18
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