Nesses tempos em que as decepções se acumulam e os detentores dos altos cargos surgem do nada ou de composições políticas alheias ao mérito, sobrevivem alguns exemplos dignos de menção e de chegarem ao conhecimento público. É o caso de Ernane Galvêas que, aos 96 anos, ainda está ativo, trabalhando na Confederação Nacional do Comércio, onde, além de assistir ao presidente Antonio de Oliveira Santos, formula uma análise quinzenal da economia nacional.
Ministro da Fazenda por cinco anos, diretor e presidente do Banco Central por mais de meia década, Galvêas trabalhou com os mais notáveis economistas e políticos do Brasil, como Carvalho Pinto, Nei Galvão, Walter Moreira Salles, Otávio Bulhões, Mário Henrique Simonsen, Roberto Campos, Delfim Netto e Francisco Dornelles, entre outros. Na Fundação Getulio Vargas, onde é membro do Conselho há quase 20 anos, publicou conferência sua e depoimentos de companheiros de jornada, brasileiros igualmente ilustres, como Bernardo Cabral. Correto e leal, começa lembrando que deve sua iniciação na carreira a dois grandes nomes: Herculano Borges da Fonseca e Otávio Gouvêa de Bulhões.
Observa-se em seu relato de vida e convívio com as crises da economia, por mais de 70 anos, um fato curioso: em meio a tantas suspeições e acusações ao longo dos últimos anos, os homens que comandaram a economia pública sempre foram ilibados, mesmo os recrutados no Congresso, como o senador Carvalho Pinto e o deputado Santiago Dantas, no controvertido governo Goulart.
Estão vivos personalidades que passaram pelo Ministério da Fazenda e ainda trabalham ligados à área pública de alguma maneira, como Delfim Netto, Francisco Dornelles, Maílson da Nóbrega e, mais jovem, mas não menos respeitado, Pedro Malan. E, hoje, o presidente Temer tem, na área econômica, um espaço imune ao desgaste que sofre em outras áreas.
Esses quadros de excelência, que têm discípulos nas novas gerações que estão despertando para a responsabilidade de uma presença maior, na política, ainda podem ajudar muito na renovação do Brasil, sem interesses subalternos. Nota-se, porém, que falta ainda uma liderança, uma coordenação, nas diferentes iniciativas nos grandes centros, que carecem de uma visão mais pragmática e menos romântica – especialmente no que toca a um programa comum voltado para a prioridade do melhor ambiente de investimentos e maior justiça e bom senso no setor fiscal.
Mas, de uma hora para outra, surgirá este aglutinador.