A crise, ao invés de ser enfrentada, é contornada. São tomadas apenas medidas paliativas que só aumentam o buraco das contas públicas e até as pessoais do cidadão.
Roberto Campos, quando criou o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), o fez pensando em criar uma poupança compulsória para criar a cultura da economia no brasileiro. E fez retornar, com força, a caderneta de poupança, que tinha tido certo sucesso nos anos 1940. Agora são muitos os motivos com cobertura legal para se sacar o FGTS. Inclusive para pagar dívidas financeiras, o que é bom para os bancos e não para o trabalhador, que deve ser incentivado a poupar e não a se endividar.
Esse espaço independente já alertou mais de uma vez para o perigo da busca do consenso nas reformas. Pelo que se lê, o governo vai recuando ao sabor das pressões e, de novo, no lugar de reforma, teremos remendos. Por isso, falta mesmo liderança e coragem que o momento exige. Empurrar problemas com a barriga nunca deu certo.
Na verdade, não se aborda os temas que interessam ao país. Como, por exemplo, a burocracia que emperra investimentos e enlouquece o cidadão. No passado, chegamos a ter um Ministério da Desburocratização, sendo o primeiro titular Hélio Beltrão, um gestor de excelência. Aliás, Beltrão teve seu centenário este ano e não foi lembrado como merecia. Foi ministro quatro vezes no período militar, presidente da Petrobras e, antes, foi o principal auxiliar de Carlos Lacerda no governo do Rio. Conseguiu alguma coisa, mas enfrentando resistências corporativas e cartoriais, embora apoiado pelo presidente João Figueiredo. O brasileiro, além de pagar muitos impostos, gasta para pagar, tal a complexidade dos tributos municipais, estaduais e federais.
O próximo ano pode nos trazer dificuldades cambiais com o acelerar da inflação, a retração na economia, o novo governo americano fortalecendo o dólar, dificuldades na Europa. E nada se faz para arrumar os números, inclusive aproveitando o momento de um bom nível nas reservas internacionais do país. Mas a um simples espirro da economia ou mesmo na política parte foge em questão de dias. Não foi por nada que os bancos internacionais têm deixado o Brasil. O sentimento de desconfiança em relação à nossa economia está claro.
Esses dias de recesso, de convívio familiar, pode permitir uma pausa para meditação e conscientizar mais a sociedade, incluindo políticos e governantes. Temos de agir agora mesmo, deixando de lado este empurrar com a barriga os problemas.